Islândia organiza primeira conferência internacional sobre #MeToo

17 de setembro 2019 - 15:17

Entre as oradoras da conferência estarão mulheres migrantes, cuidadoras informais e mulheres com deficiência. Organizadoras pretendem encontrar formas de manter vivo o debate sobre assédio e abuso sexual.

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Islândia organiza primeira conferência internacional sobre #MeToo
Conferência terá três dias de duração e poderá ser acompanhada através de live streaming.

A primeira conferência internacional dedicada ao movimento #MeToo tem lugar em Reykjavik, na Islândia, e contará com a presença da primeira ministra do país. O encontro de três dias, que terá início a 17 de setembro, tem por objetivo analisar a origem do movimento, o que lhe deu força e o seu impacto em várias áreas e países. 

Em declarações ao jornal Guardian, Katrín Jakobsdóttir indicou que a conferência tem como objetivo “criar uma plataforma internacional e um debate aprofundado sobre o impacto e o futuro do #MeToo”. 

“O movimento revelou níveis epidémicos de assédio sexual e baseado no género e o abuso a que estão expostas  as mulheres em toda a sociedade e em todo o mundo”, afirmou a primeira ministra islandesa. “É nosso dever para com todas essas mulheres, para com as mulheres que não conseguem falar e para com as futuras gerações, criar políticas e abrir caminho a uma mudança transformadora, para que as realidades expostas pelos #MeToo façam em breve parte dos livros de história”. 

Entre as oito oradoras encontram-se a ativista política Angela David, a co-fundadora do Women’s Equality Party Catherine Mayer e a porta voz das Nações Unidas para as questões de assédio sexual Purna Sen. 

Os organizadores da conferência #MeToo Moving Forward afirmam que esta tem como objetivo analisar o que foi revelado pelos vários países que se depararam com denúncias no âmbito deste movimento. Pretende-se também chegar, através do debate nestes três dias, a um conjunto de propostas concretas para lidar com as questões de assédio sexual. 

“Queremos alargar o debate, escutar as vozes que ainda não escutámos, incluindo as das pessoas com vínculos laborais menos seguros e que podem afetar a sua capacidade de apresentar queixas, incluindo as mulheres com profissões com menores qualificações e menores salários, cuidadoras, trabalhadoras domésticas, trabalhadoras migrante, mulheres com deficiência, que muitas vezes não se conseguem organizar da mesma forma que outras mulheres conseguem”, dizem os organizadores ao Guardian. 

“Pretendemos analisar as questões presentes em todos estes grupos, incluindo o consentimento, justiça e repercussões”. 

A conferência, que se pretendia inicialmente que fosse algo de pequenas dimensões, conta neste momento com 800 participantes inscritos - o dobro do inicialmente previsto. Será possível acompanhar o debate através de um live streaming no site da conferência e na sua página no facebook. 

O movimento #MeToo tem tido um grande impacto em vários países e em vários sectores sociais, tendo tido início com o surgimento das denúncias de abuso sexual alegadamente praticado pelo produtor de Hollywood Harvey Weinstein. 

Embora seja considerado um país exemplar em termos de igualdade de género, a Islândia também lidou com denúncias no âmbito deste movimento criado em 2017. O #MeToo revelou vários casos de assédio sexual sistémico em algumas áreas laborais e centenas de mulheres recorreram às redes sociais para partilhar as suas experiências. “Esperávamos que não acontecesse aqui, mas quando começámos a falar sobre o assunto percebemos que acontecia”, disse Halla Gunnarsdóttir, assessora governamental para a igualdade de género. 

“O que o #MeToo fez foi levar o debate para as pausas de almoço em todos os locais de trabalho, onde todas as pessoas começaram a falar sobre o que lhes aconteceu e a partilhar as suas histórias, abriu-se subitamente a Caixa de Pandora”, afirmou Halla ao Guardian.

“Mas ainda estamos a perceber o que é realmente o #MeToo. É uma revolução? Uma subversão? É apenas uma pequena oportunidade, ou algo maior? Espero que esta conferência ajude a manter o debate e, se existirem repercussões, que ela nos ajude a desafiar as mesmas”.