Irlanda é o primeiro país europeu a chamar “anexação” aos colonatos de Israel

27 de maio 2021 - 14:02

A moção de condenação de Israel foi aprovada com apoio do Governo e oposição. Chefe da diplomacia irlandesa diz que ela traduz o sentimento que percorre o país. Em França, o governo fala em “risco de apartheid” com a continuação do status quo.

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Comunidade beduína de Pope Mountain em resistência ao avanço dos bulldozers israelitas em 2017.
Comunidade beduína de Pope Mountain em resistência ao avanço dos bulldozers israelitas em 2017. Foto Avaaz/Flickr

“A dimensão, velocidade e natureza estratégica” da instalação de colonatos por parte de Israel nos territórios palestinianos “é uma anexação de facto”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros irlandês, citado pelo Guardian, após a aprovação da moção proposta pelo Sinn Féin e aprovada pelas várias bancadas do Parlamento da Irlanda. Trata-se do primeiro país da União Europeia a chamar “anexação” à política de instalação de colonatos por parte de Israel em terras palestinianas, uma prática que se intensificou nos últimos anos.

“Isto não é algo que eu diga, ou mesmo esta câmara, de ânimo leve. Somos o primeiro estado da UE a fazê-lo. Mas é o que reflete a enorme preocupação que temos sobre a finalidade destas ações e, claro, o seu impacto”, prosseguiu o ministro. Para Simon Coveney, a moção aprovada "é um sinal claro da intensidade do sentimento que percorre a Irlanda" após a repressão em Jerusalém e os bombardeamentos de Israel sobre Gaza que fizeram 254 mortos, entre os quais 66 crianças, do lado palestiniano e 10 mortos do lado israelita.

O porta-voz do Sinn Féin para assuntos internacionais, John Brady, lembrou que desde janeiro deste ano Israel aprovou a instalação de mais 2.500 habitações em colonatos, 460 das quais em Jerusalém Oriental. No ano passado, segundo a organização Peace Now, o governo israelita deu luz verde a outras 12 mil, o maior número desde 2012, quando a organização começou a registar os números da anexação. A líder do partido, Mary Lou McDonald acusou Israel de ser um “violador em série da lei internacional”.

A posição da Irlanda tem também uma importância política reforçada, dado que o país ocupa desde janeiro um dos lugares no Conselho de Segurança da ONU. Isso mesmo lembrou o deputado trabalhista Brendan Howlin, ao declarar o apoio à moção, dizendo-se “chocado” por aquele organismo internacional ter esperado duas semanas antes de lançar um comunicado de imprensa. “A condenação pontual de Israel não basta”, prosseguiu Howlin, lamentando a impossibilidade de consenso na ONU para a condenação de Israel por causa do veto sistemático dos EUA.

Na mesma sessão parlamentar, foi rejeitada uma emenda apresentada pela bancada do People Before Profit, que defendia a expulsão do embaixador israelita em Dublin.

Em resposta à aprovação da moção, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita diz que ela representa “uma vitória para as fações extremistas palestinianas” e que a Irlanda fica mais longe de desempenhar m papel construtivo no contexto regional.

Ministro francês já fala em “risco de apartheid”

O chefe da diplomacia de França, Jean-Yves Le Drian, afirmou esta semana em entrevista ao programa “Grand Jury”, da RTL/Le Figaro/LCI, que os confrontos das últimas semanas no interior das cidades israelitas onde as duas comunidades vivem mostraram que “se tivéssemos qualquer outra solução que não a solução de dois Estados, teríamos os ingredientes para um apartheid duradouro".

"O risco de apartheid é forte se continuarmos com uma lógica de um estado ou do status quo. O próprio status quo produz isso”, insistiu o ministro dos Negócios Estrangeiros francês.

Em resposta, Israel chamou o embaixador francês para o repreender pelas declarações que considera “inaceitáveis e que distorcem a realidade”. Na declaração da diplomacia israelita, a França junta-se assim também ao grupo de países que “recompensam os agentes extremistas e organizações terroristas chefiadas pelo Hamas”. O primeiro-ministro Netanyahu foi mais longe e resumiu a declaração de Le Drian a uma "lição de moral hipócrita e mentirosa".