Na passada sexta-feira, houve eleições legislativas no Irão. Esta segunda-feira, o Ministro do Interior do país, Ahmad Vahidi, confirmou em conferência de imprensa que a afluência às urnas foi a mais baixa de sempre desde a “Revolução Islâmica” em 1979, por volta de 41%.
A participação nos atos eleitorais iranianos tem vindo a descer. Em 2020 tinha sido já de 42,5% quando em 2016 fora de 62%. Ainda assim as autoridades consideram que esta é uma prova “da confiança do povo no sistema sagrado da República Islâmica”.
O governante afirmou, na mesma ocasião, que o número de votos inválidos foi de 5%, um número muito distante dos 30% que, de acordo com a Reuters, vários meios de comunicação iranianos tinham noticiado anteriormente.
Estes números fazem com que uma repetição tenha de acontecer em meados de abril nos casos em que os candidatos não obtiveram o mínimo legal de 20%. Por exemplo, na capital Teerão estão nesta situação 16 dos 30 lugares no Parlamento.
Os resultados parciais conhecidos vão no sentido esperado já que os principais candidatos considerados moderados não se apresentaram ao escrutínio, sendo a disputa entre setores conservadores. O próprio ex-presidente Mohammad Khatami, considerado reformista, não votou na sexta-feira. Isto depois de vários dos grupos oposicionistas terem apelado a um boicote ao ato eleitoral.
Outro ex-presidente, muitas vezes apresentado como moderado, Hassan Rouhani, tinha sido proibido de concorrer a estas eleições, tendo considerado ser alvo de uma “abordagem anti-constitucional por parte da minoria no poder”.
Narges Mohammadi, ativista da defesa dos direitos humanos, vencedora do Prémio Nobel que continua presa, fez chegar à sua família uma declaração em que denunciava a “fraude” nas eleições.
Azar Mansouri, outra figura do setor reformista, declarou aos meios de comunicação social do país que “as autoridades devem ouvir a maioria silenciosa… e reformar o método de governo… espero que compreendam isto antes de ser tarde demais para reverter os estragos e danos que este caminho vai causar”.
Pena de morte, um “instrumento de repressão política”
Entretanto, foi divulgado o 16º relatório sobre a pena de morte no Irão, realizado pela Iran Human Rights, sediada na Noruega, e pela Ensemble contre la peine de mort, sediada em Paris. De acordo com o documento de mais de cem páginas, o número de execuções no país atingiu as 834 em 2023, aumentando 43% relativamente ao ano anterior e chegando ao valor mais elevado em quase uma década (para atingir números maiores é preciso recuar até 2015 quando foram 972) e sendo apenas a segunda vez em vinte anos que se ultrapassam as 800. Também o número de mulheres executadas foi o mais alto da década: 22.
Estas organizações ligam o aumento das execuções ao movimento de protesto que nasceu em setembro de 2022, depois de Mahsa Amini ter morrido às mãos da chamada “polícia da moralidade” na sequência de uma detenção devido ao que se considerou ser um mau uso do véu. Ao longo de semanas, milhares de pessoas, com as mulheres a encabeçarem o movimento, protestaram nas ruas. As organizações dizem que a pena de morte é um "instrumento de repressão política", mas não foi o único: a repressão destas manifestações provocou a morte de centenas e a prisão de milhares. De acordo com o relatório terão sido "pelo menos 551 pessoas mortas durante manifestações ou outras execuções extrajudiciais dentro e fora das prisões".
Nove das execuções foram por acusações de “ataques” às forças policiais na sequência das manifestações dessa altura e mais de metade foram por acusações relacionadas com droga. Sete destes enforcamentos foram feitos em público.
Nota-se ainda uma “sobre-representação grosseira” de pessoas de minorias étnicas entre os mortos pelo Estado, nomeadamente os baluchis que foram 20% dos executados embora representem apenas 5% do total da população.
Resumindo o estudo, Mahmood Amiry-Moghaddam, diretor da primeira destas organizações, afirma que "criar o medo na sociedade é a única forma de o regime se manter no poder e a pena de morte é o instrumento mais importante".