O impasse da véspera quanto à eleição do futuro Presidente da Assembleia da República parece ter sido desbloqueado pelo acordo alcançado na manhã de quarta-feira entre PS e PSD para uma presidência repartida. Segundo este acordo, nos primeiros dois anos da legislatura será o candidato do PSD a assumir o cargo, passando a presidência ao candidato do PS nos dois anos seguintes. A eleição de Aguiar-Branco concretizou-se esta quarta-feira com os votos dos deputados do PSD e PS.
Em declarações aos jornalistas, Mariana Mortágua afirmou que se trata de "um entendimento entre os dois maiores partidos da Assembleia da República, que resolve um problema institucional", mas que o Bloco "não faz parte deste entendimento e por isso não o acompanhará".
"Fica por esclarecer deste entendimento o que é que acontece à vice-presidência atribuída ao Chega, que é um partido que tem posições de constante bloqueio aos trabalhos da Assembleia da República", com o Bloco a reafirmar a sua oposição à presença da extrema-direita neste cargo, pois esta "já mostrou que não tem qualquer respeito pelo funcionamento regular das instituições, mostrou-o na anterior legislatura e está a mostrá-lo agora desde o primeiríssimo dia".
Ao final da tarde, após a confirmação da eleição de Pacheco de Amorim, Mariana Mortágua afirmou que a Assembleia da República "tem agora um vice-presidente com um percurso político que passa por organizações terroristas que se opuseram ao 25 de Abril e à democracia que o país conquistou há 50 anos". E responsabiizou o PSD por votar no nome indicado pelo Chega "depois de toda a confusão que gerou", considerando que este "é um dia triste para a democracia".
"O que aconteceu é revelador do que vai acontecer na Assembleia da República nos próximos meses"
Numa análise à situação com que os deputados se depararam no primeiro dia dos trabalhos parlamentares a coordenadora bloquista diz que "este é um primeiro episódio que é revelador do que vai acontecer na Assembleia da República nos próximos meses: a direita não tem quaisquer condições de oferecer estabilidade política ao país nem estabilidade institucional, como se verificou neste caso".
Para Mariana Mortágua, "a dependência da extrema-direita é um garante de permanente bloqueio, de permanente incapacidade de lidar com problemas institucionais". E por isso prevê que "estamos a assistir ao primeiro de muitos casos que revelam a situação política que temos: uma maioria de direita que não consegue dizer ao país que tem um projeto de estabilidade".
Tendo em conta que "há problemas a que é preciso dar resposta, nos professores, nas forças de segurança, no SNS", Mariana Mortágua teme que "o que estamos a assistir nestes últimos dias com este triste espetáculo vai acontecer no Orçamento do Estado, porque a direita não tem condições de garantir aquele documento".
Assim, "o país e o Parlamento vão ser arrastados para uma situação permanente de instabilidade que resulta da incapacidade da direita, refém dos jogos de poder do Chega, que não tem qualquer consideração pelo país e pelas pessoas que neles votaram".
Notícia atualizada às 18h30 com a reação à eleição de Diogo Pacheco de Amorim para a vice-presidência da Assembleia da República.