Imagens do Google reforçam estereótipos machistas

19 de fevereiro 2024 - 17:02

Um estudo científico mostra que o enviesamento de género é exacerbado “significativamente” pela exposição às imagens de páginas como o Google Images, a Wikipedia ou o IMDb.

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Resultados da pesquisa por "doctor" no Google Images
Resultados da pesquisa por "doctor" no Google Images

Uma equipa de investigadores liderada por Douglas Guilbeault da Universidade de Berkeley publicou esta quarta-feira na revista Nature um estudo no qual se demonstra, através da análise de mais de um milhão de imagens, que os estereótipos machistas são reforçados pelas imagens do motor de pesquisa Google Images mas também em plataformas como a enciclopédia colaborativa Wikipedia e a plataforma dedicada ao cinema IMDb.

Na apresentação do trabalho, explica-se que “a cada ano, as pessoas estão a passar menos tempo a ler e mais tempo a visualizar imagens que estão a proliferar online”. Mas também que as pessoas “processam mais rapidamente, implicitamente e recordam mais” estas do que o texto. Os autores mostram como este aumento da prevalência das imagens online “exacerba significativamente o enviesamento de género”.

Através da análise a 3.495 categorias sociais (como por exemplo profissões como enfermeiro ou banqueiro ou papéis sociais como vizinho, colega ou amigo, palavras de género neutro em inglês) concluiu-se que “o preconceito de género é consistentemente mais prevalecente nas imagens do que no texto, tanto para as categorias femininas como para as masculinas”. A busca de imagens da Google resulta numa “representação distorcida da realidade” em que a determinadas profissões é dado muito maioritariamente um rosto masculino e a outras um feminino.

Para além disso, já se sabia que há uma sub-representação das mulheres online. O estudo permite descobrir que esta é “substancialmente pior nas imagens do que no texto, na opinião pública e nos dados dos censos dos EUA”.

Uma experiência realizada no âmbito desta investigação mostrou que pesquisar imagens no Google em vez de descrições textuais de profissões amplifica o preconceito de género nas crenças dos participantes, efeito que foi comprovado dias depois da exposição.

O investigador principal falou com o El Diario para sublinhar que a dimensão deste estudo supera as dos anteriores que se tinham debruçado apenas em “milhares de fotos”, que não tinham feito a comparação com o texto nem mediam os efeitos psicológicos dos estereótipos. O investigador de Sociologia Computacional vinca que “as imagens são mais poderosas que o teto despertando recordações e reações emocionais, influenciando também os juízos morais das pessoas”.

Para além disso, os estereótipos sexistas não são reforçados apenas diretamente através das consultas dos utilizadores individuais mas também através dos sistemas de inteligência artificial que utilizam como fonte estas imagens. Guilbeault afirma que os enviesamentos de género que foram detetados em algoritmos como o Dall-E “provavelmente” ocorrem porque “as imagens que os alimentam vêm dali, do ou da Wikipedia; é este ecossistema que perpetua os enviesamentos”, conclui.