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Hong Kong: campo pró-Pequim sofre derrota eleitoral significativa
A vitória do campo que apoia os protestos em Hong Kong foi esmagadora. Nas eleições de 2015, a participação na votação tinha sido de 47% e todos os conselhos distritais tinham ficado nas mãos de candidatos pró-Pequim. Nas eleições do passado domingo, a participação subiu até aos 71,2%, cerca de três milhões de eleitores, e 17 dos 18 conselhos distritais passaram a estar nas mãos do campo que se intitula pró-democracia. Ganharam 347 lugares em 452, sem contar com os candidatos independentes que ganharam 45. O campo que apoia a atual Chefe Executiva da região obteve apenas 60.
A hecatombe eleitoral desarmou os argumentos dos partidários do sistema que defendiam que uma maioria silenciosa estava incomodada com os protestos e apoiaria tudo o que fosse feito para que houvesse um regresso à normalidade.
Carrie Lam, a atual líder da região autónoma, lançou uma declaração em que prometia que o governo iria “ouvir as opiniões” que foram expressas de forma “humilde” e “refletir seriamente”, apesar de manter ao mesmo tempo a posição de que as eleições eram sobre temas locais e não sobre a política da região no seu todo.
Os opositores avançam com a leitura inversa. Tommy Cheung, ex-dirigente estudantil que foi eleito neste domingo, classificou o resultado como “um tsunami democrático”. O dirigente do Partido Democrático, Wu Chi-wai, por sua vez, declarou que “o resultado de hoje é o primeiro passo do nosso longo caminho para a democracia.” Lester Shum, outro dos dirigentes estudantis, afirmou à Reuteurs que os votantes utilizaram esta eleição “para demonstrar apoio pelo movimento, pelas suas cinco exigências e a insatisfação com o governo de Hong Kong” e que o “conselho distrital é apenas um caminho muito importante de luta” e que “no futuro devemos encontrar outros caminhos de luta.”
As derrotas no campo pró-Pequim foram muitas. O seu principal partido, a Aliança Democrática para a Melhoria e o Progresso de Hong Kong conseguiu 21 representantes. Há quatro anos tinham sido 119. Ainda assim a líder do partido Starry Lee Wai-king conseguiu manter o lugar e derrotar uma figura histórica do campo democrático, Leung Kwok-hung, o famoso “cabelos longos”, ex-dirigente trotskista.
Do lado vencedor, estão o Partido Democrático e o Partido Cívico que se tornaram os dois maiores partidos locais com 91 e 32 lugares. Do lado pró-Pequim, a Federação dos Sindicatos e a Aliança dos Profissionais e Negócios obtiveram cinco e três lugares.
Nas ruas, os resultados foram saudados com festa e com cânticos de “libertem Hong Kong. Revolução Já.” Em Pequim com silêncio ou cautela. Em visita ao Japão, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, escusou-se a entrar em detalhes dizendo que não se trata do resultado final mas sublinhou que “aconteça o que acontecer, Hong Kong é parte da China” e que “qualquer tentativa de causar confusão em Hong Kong ou até de prejudicar a sua prosperidade e estabilidade não será bem sucedida”.
Segundo o jornal South China Morning Post, os meios de comunicação mais importantes da China, a agência noticiosa Xinhua e o canal televisivo público CCTV, apenas assinalaram brevemente ao fim da manhã a existência do ato eleitoral, “repetindo cada uma delas que restaurar a estabilidade continua a ser a tarefa crítica que a cidade enfrenta” e, depois disso, não teria sido dada a notícia da derrota do campo pró-Pequim, preferindo-se reportagens sobre como os candidatos desse lado teriam supostamente sido “assediados” durante as eleições.
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