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Hong Kong: campo pró-Pequim sofre derrota eleitoral significativa

Nas eleições locais de Hong Kong houve uma participação recorde e a oposição venceu 17 dos 18 conselhos distritais. A derrota esmagadora foi recebida com silêncio nos meios de comunicação social chineses. Nas ruas da região autónoma, houve festa.
Festejos nas ruas de Hong Kong pelo resultado das eleições para os conselhos distritais. Novembro de 2019.
Festejos nas ruas de Hong Kong pelo resultado das eleições para os conselhos distritais. Novembro de 2019. Foto de Lusa/EPA/CHAN CHEUNK FAI

A vitória do campo que apoia os protestos em Hong Kong foi esmagadora. Nas eleições de 2015, a participação na votação tinha sido de 47% e todos os conselhos distritais tinham ficado nas mãos de candidatos pró-Pequim. Nas eleições do passado domingo, a participação subiu até aos 71,2%, cerca de três milhões de eleitores, e 17 dos 18 conselhos distritais passaram a estar nas mãos do campo que se intitula pró-democracia. Ganharam 347 lugares em 452, sem contar com os candidatos independentes que ganharam 45. O campo que apoia a atual Chefe Executiva da região obteve apenas 60.

A hecatombe eleitoral desarmou os argumentos dos partidários do sistema que defendiam que uma maioria silenciosa estava incomodada com os protestos e apoiaria tudo o que fosse feito para que houvesse um regresso à normalidade.

Carrie Lam, a atual líder da região autónoma, lançou uma declaração em que prometia que o governo iria “ouvir as opiniões” que foram expressas de forma “humilde” e “refletir seriamente”, apesar de manter ao mesmo tempo a posição de que as eleições eram sobre temas locais e não sobre a política da região no seu todo.

Os opositores avançam com a leitura inversa. Tommy Cheung, ex-dirigente estudantil que foi eleito neste domingo, classificou o resultado como “um tsunami democrático”. O dirigente do Partido Democrático, Wu Chi-wai, por sua vez, declarou que “o resultado de hoje é o primeiro passo do nosso longo caminho para a democracia.” Lester Shum, outro dos dirigentes estudantis, afirmou à Reuteurs que os votantes utilizaram esta eleição “para demonstrar apoio pelo movimento, pelas suas cinco exigências e a insatisfação com o governo de Hong Kong” e que o “conselho distrital é apenas um caminho muito importante de luta” e que “no futuro devemos encontrar outros caminhos de luta.”

As derrotas no campo pró-Pequim foram muitas. O seu principal partido, a Aliança Democrática para a Melhoria e o Progresso de Hong Kong conseguiu 21 representantes. Há quatro anos tinham sido 119. Ainda assim a líder do partido Starry Lee Wai-king conseguiu manter o lugar e derrotar uma figura histórica do campo democrático, Leung Kwok-hung, o famoso “cabelos longos”, ex-dirigente trotskista.

Do lado vencedor, estão o Partido Democrático e o Partido Cívico que se tornaram os dois maiores partidos locais com 91 e 32 lugares. Do lado pró-Pequim, a Federação dos Sindicatos e a Aliança dos Profissionais e Negócios obtiveram cinco e três lugares.

Nas ruas, os resultados foram saudados com festa e com cânticos de “libertem Hong Kong. Revolução Já.” Em Pequim com silêncio ou cautela. Em visita ao Japão, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, escusou-se a entrar em detalhes dizendo que não se trata do resultado final mas sublinhou que “aconteça o que acontecer, Hong Kong é parte da China” e que “qualquer tentativa de causar confusão em Hong Kong ou até de prejudicar a sua prosperidade e estabilidade não será bem sucedida”.

Segundo o jornal South China Morning Post, os meios de comunicação mais importantes da China, a agência noticiosa Xinhua e o canal televisivo público CCTV, apenas assinalaram brevemente ao fim da manhã a existência do ato eleitoral, “repetindo cada uma delas que restaurar a estabilidade continua a ser a tarefa crítica que a cidade enfrenta” e, depois disso, não teria sido dada a notícia da derrota do campo pró-Pequim, preferindo-se reportagens sobre como os candidatos desse lado teriam supostamente sido “assediados” durante as eleições.

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