Habitação: famílias com baixos rendimentos quase não têm acesso a crédito

05 de abril 2024 - 13:11

Nos últimos dois anos, a percentagem de novos créditos atribuídos a famílias com menos recursos financeiros foi de apenas 3%. Em 2018 era de 32%. Ao mesmo tempo, o Eurostat mostra como o preço das casas desce no conjunto da Europa mas sobe 7,8% em Portugal.

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Habitação. Foto de Paulete Matos.
Habitação. Foto de Paulete Matos.

O relatório Acompanhamento da Recomendação Macroprudencial sobre Novos Créditos a Consumidores feito pelo Banco de Portugal em março deste ano e agora noticiado pelo Público mostra que em 2022 e 2023 a percentagem de novos créditos à habitação atribuídos a famílias com menores rendimentos fixou-se apenas em 3%.

A comparação com o terceiro trimestre de 2018 é reveladora: então a concessão de crédito a estes cidadãos, rotulados na linguagem “técnica” como “mutuários de risco elevado”, tinha sido de 32%.

Explica-se que isto é, em parte, efeito daquelas recomendações para baixar “os riscos do sistema financeiro” que começaram a ser aplicadas a partir de setembro daquele ano e “continuaram a ser cumpridas em 2023”. Neste sentido, alterou-se a fórmula de cálculo da taxa de esforço que mede a relação entre o montante da prestação mensal calculada com todos os empréstimos do particular e o seu rendimento mensal e o rácio entre o montante total do crédito e o preço de aquisição ou o valor da avaliação do imóvel dado em garantia, o que, escreve o diário, obriga “os particulares a terem poupanças consideráveis para assegurarem o pagamento “à cabeça” de parte do imóvel”.

Mas o jornal acrescenta como fatores que tornam o acesso ao crédito praticamente acessível para quem tenha rendimentos mais baixos a subida das taxas de juro nos últimos dois anos e o próprio aumento dos preços das casas. Estas famílias são assim empurradas para um mercado de arrendamento também ele em escalada de preços.

Preço das casas desce na Europa, sobe em Portugal

Esta quinta-feira, o serviço estatístico europeu, Eurostat, publicou dados que indicam que, no último trimestre do ano passado, o preço das casas em Portugal aumentou 7,8% em comparação com igual período do ano anterior e 1,3% em comparação com o trimestre imediatamente anterior.

Já a média da zona euro, em termos homólogos, desceu 1,1% e 0,2% no conjunto da União Europeia. A comparação entre terceiro e quarto trimestre confirma a tendência de descida: na zona euro esta foi de 0,7%, no total da União Europeia de 0,3%.

Na comparação com o ano passado, as maiores descidas de preços na habitação foram sentidas no Luxemburgo (-14,4%), na Alemanha (-7,1%) e na Finlândia (-4,4%) e as maiores subidas na Polónia (13,0%), Bulgária (10,1%) e Croácia (9,5%).