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Greve geral paralisa o Chile e manifestações ocupam centro de Santiago

O primeiro dia de greve geral de 48 horas teve grande sucesso. Manifestações no centro da capital foram as maiores desde o início dos protestos. Segundo o Instituto Nacional dos Direitos Humanos do Chile, foram presas 2410 pessoas e houve 18 mortos desde que a crise começou.
Multidão no centro de Santiago quarta-feira. Fotograma de vídeo no Twitter
Multidão no centro de Santiago quarta-feira. Fotograma de vídeo no Twitter

O primeiro dia de greve geral no Chile, nesta quarta, 23 de outubro, foi seguido maciçamente, segundo as mais de 20 organizações sindicais que a convocaram, entre as quais a Central Unitária de Trabajadores – Chile, a CUT, a Agrupacion Nacional de Empleados Fiscales – ANEF, ou a FECh, a Federação de Estudantes da Universidade do Chile. Centenas de milhares de trabalhadores manifestaram-se durante o dia, no centro de Santiago, contra o estado de emergência imposto pelo presidente Sebastián Piñera, pedindo também a saída dos militares das ruas. Mas entre as palavras de ordens mais gritadas esteve “Fora Piñera!”, pela renúncia do presidente.

Esta manifestação foi pacífica, sem sofrer ataques policiais, até que os manifestantes tentaram chegar ao La Moneda, a sede do governo chileno, altura em que a polícia usou canhões de água e gás lacrimogénio. Na zona metropolitana de Santiago, em alguns bairros, houve saques a supermercados e lojas, e um caso muito falado e mal explicado: um pequeno hotel, o Príncipe de Astúrias, foi incendiado e saqueado. O dono, ouvido pelas TVs, afirmou que os carabineiros sabiam das ameaças ao hotel, estavam perto e deixaram que tudo acontecesse. O bando que atacou apenas negociou com o gerente deixar sair os hóspedes. Parte do hotel foi incendiado e não se compreendem os motivos que justifiquem esse ato.

Atentados aos direitos humanos

Episódios como o ataque ao hotel ou os saques são aproveitados por muitos meios de comunicação para atacar os manifestantes e a oposição, acusando-os de promoverem a violência. Mas o Instituto Nacional dos Direitos Humanos do Chile veio repor a verdade dos factos ao denunciar que desde o início dos protestos, que já duram seis dias, foram presas 2410 pessoas, entre os quais 442 mulheres e 274 menores. A repressão aos protestos já provocou 18 mortos, 535 feridos, 210 dos quais atingidos por disparos de armas de fogo. O INDH já apresentou 55 ações judiciais relacionadas a situações ocorridas nos protestos. Cinco delas foram por falecimentos ocorridos em ações em que intervieram polícias ou militares. O INDH também moveu ações judiciais devido a oito detidos que afirmam ter sofrido violência sexual e constatou que muitos dos presos denunciam torturas e abusos praticados por agentes das forças do Estado.

A Human Rights Watch (HRW) instou o governo chileno para que respeite os direitos humanos nas suas ações. Em Washington, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos rejeitou de maneira enfática a escalada de violência “que resultou em pelo menos 18 mortos, dezenas de feridos, jornalistas agredidos e mais de mil pessoas presas”.

Saques feitos por polícias?

A deputada comunista e ex-dirigente estudantil Camila Vallejo publicou um vídeo no Twitter com o comentário: “Vimos demasiados vídeos que mostram o atuar duvidoso de polícias e militares. Iturriaga, Piñera e Chadwick (o ministro do Interior) devem responder pelas dúvidas legítimas que geram estas imagens.” Junto com o vídeo, um comentário de quem o postou: “os próprios feirantes o dizem. Os saques seriam organizados pela própria polícia para pôr o povo contra o povo.”

Vallejo acusou ainda o presidente Piñera de não se responsabilizar pelos mortos nem assumir as responsabilidades políticas sobre a violência que foi desencadeada nas ruas como produto das suas más decisões.”

Recorde-se que Piñera acusou primeiro agentes estrangeiros, nomeadamente da Venezuela, de estarem por trás das manifestações, para depois recuar e anunciar uma série de medidas de apaziguamento da situação de miséria que vivem muitos aposentados e pais de família, consideradas como “migalhas” pela oposição.

Piñera chegou a pedir desculpas por não ter tido uma visão mais ampla dos problemas do país, mas não mexeu um dedo para reduzir a repressão. O Exército, pelo contrário, convocou os reservistas para reforçar a sua atuação repressiva aos protestos.

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