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Governo britânico recua no corte de impostos para os mais ricos

Humilhado dentro e fora do partido Conservador, o ministro das Finanças anunciou a retirada da proposta de acabar com a taxa de 45% no IRS para contribuintes com rendimento acima das 150 mil libras anuais.
Kwasi Kwarteng na Conferência dos Conservadores. Foto Michael Hall CCHQ / Parsons Media /Flickr

“Já percebemos, e ouvimos”. Foi com este tweet que Kwasi Kwarteng desfez esta segunda-feira uma das medidas emblemáticas do seu mini-orçamento de cortes fiscais apresentado há poucos dias, recebido com revolta pela população e com turbulência nos mercados financeiros. Assim, o fim da taxa de 45% no imposto sobre rendimento, que até agora se aplicava a contribuintes que ganham acima de 150 mil libras anuais, já não irá avançar.

O recuo foi visto como uma humilhação para o executivo de Liz Truss, no dia em que decorre a convenção dos Conservadores com muitas críticas ao plano ultraliberal que marcou a entrada do governo em funções. Kwarteng admitiu que o fim desta taxa “tornou-se uma distração” face ao plano que apresentou. Uma distração que saiu caro aos cofres públicos do país, com o banco central a ter de intervir para segurar a libra e salvar os fundos de pensões privados e os juros da dívida a dispararem. Mas também aos cidadãos que viram as prestações do crédito aumentarem na mesma medida.

Para a oposição, este recuo não é suficiente. “Os Tories têm de reverter toda a sua estratégia desacreditada de ‘trickle down’ económico”, que consiste em dar mais dinheiro aos ricos, esperando que estes o reinvistam com benefício para toda a sociedade, afirmou a ministra sombra trabalhista das Finanças, Rachel Reeves. Também os liberais-democratas seguem a mesma crítica. “Esta reviravolta humilhante vem demasiado tarde para milhões que viram a sua taxa de juro do crédito à habitação disparar por causa deste orçamento atabalhoado. Os Conservadores devem agora cancelar a sua conferência e convocar uma sessão do Parlamento para resolver esta confusão a bem do país”, afirmou o líder do partido, Ed Davey, citado pelo Guardian.

Mas este recuo não parece convencer os analistas do Institute for Fiscal Studies, um dos principais think tanks de investigação económica do país. O seu diretor, Paul Johnson, diz que a medida era apenas uma pequena parte do plano de cortes fiscais, ou seja, “o que era um pacote de cortes fiscais de 45 mil milhões de libras é agora um pacote de 43 mil milhões de libras”, em grande parte sem receita prevista para compensar essa perda de receita fiscal.

No entanto, também há quem se queixe do recuo, como é o caso de um dos principais doadores do partido do governo, Alasdair Locke, que agora critica o executivo por querer governar ao sabor da reação mediática.

O efeito do recuo também preocupa outros Conservadores como o mayor de Tees Valley, no norte de Inglaterra. Ben Houchen diz que o mal já está feito e “ficámos com todos os prejuízos de anunciar a medida sem que a tivéssemos implementado”. E desafia agora o governo a recuar noutra medida polémica, a de acabar com o teto imposto aos bónus pagos aos banqueiros, com o argumento de que a medida pode fazer sentido do ponto de vista económico, “mas é a altura errada e a posição errada para o momento que o país atravessa”.

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