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Governo andaluz quer atrair "nómadas energéticos"

O executivo liderado pelo PP vai lançar uma campanha para atrair altos quadros, teletrabalhadores e reformados do centro e norte europeu durante os meses de inverno. Esquerda andaluza teme aumento dos preços da habitação e dos alimentos.
Foto Steven Zwerink/Flickr

Na inauguração da feira de turismo londrina World Travel Market, o chefe do executivo andaluz, Juanma Moreno, anunciou que vai gastar quase um milhão de euros numa campanha para atrair o que chama de "nómadas energéticos": trabalhadores e altos quatros do centro e norte da Europa em regime de teletrabalho ou aposentados. A campanha vai explicar o que podem poupar na conta do aquecimento se vierem passar os meses de inverno na Andaluzia. Países nórdicos, Países Baixos, Alemanha, Bélgica, Irlanda e Reino Unido são os alvos desta campanha nos próximos meses.

O governo andaluz espera que além da poupança na conta da luz e do gás, os 22 graus de temperatura média e as três mil horas de sol anuais consigam convencer o público-alvo a passar mais tempo na região e dessa forma prolongar a época alta na Costa do Sol, com o objetivo de regressar ao número de visitantes pré-pandemia.

"Nómadas energéticos são refugiados climáticos com os bolsos mais cheios"

Mas esta campanha foi recebida com críticas na Andaluzia, por conduzir ao aumento dos preços da habitação e dos alimentos básicos. "Queremos que teletrabalhem e vivam na nossa terra durante um tempo para evitar as baixas temperaturas no norte e centro da Europa, mas isso não é necessariamente bom para os andaluzes", afirmou a deputada Teresa Rodríguez, do Adelante Andalucia, classificando a expressão "nómadas energéticos" como "ultraperversa". Na verdade, são "refugiados climáticos com os bolsos mais cheios", acrescentou a deputada andaluza em Cádis.

Para a esquerda andaluza, o modelo de turistificação "não traz rendimento positivo para a cidadania" pois os operadores turísticos que dominam o mercado "estão nas mãos de capital estrangeiro" e não pagam impostos em Espanha. Por outro lado, acusa Teresa Rodríguez, "somos proibidos de cobrar um euro por cada reserva para tratar de compensar com essa taxa os efeitos negativos do turismo".

"Temos os salários mais baixos e os preços mais altos, o que é consequência direta desta turistificação. Sem medidas de compensação, atrair turismo deste tipo é tornar a vida mais dura para os andaluzes e vender a Andaluzia às postas e a baixo preço", concluiu a deputada, sublinhando que a Andaluzia e Canárias partilham alguns dos indicadores que marcam este modelo assente no turismo: salários mais baixos, preços da habitação mais elevados, emancipação mais tardia dos jovens e maior risco de pobreza e exclusão social.

Uma situação que se agrava nas cidades costeiras, onde existem "supermercados de luxo que aumentam preços porque estão pensados para os turistas e casas com preços inacessíveis", o que leva a que os andaluzes fiquem condenados, segundo Teresa Rodríguez, a "servir à mesa dos nómadas energéticos".

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