Passaram apenas dois meses desde a demissão do Secretário de Estado da Administração Local e do Ordenamento do Território após ter vindo a público que constituíra duas empresas do ramo imobiliário já enquanto governante e enquanto a lei dos solos estava a ser preparada. A saída de Hernâni Dias reforçou o escrutínio dos jornalistas sobre os interesses imobiliários em torno do Governo da AD, que depois alastrou a outros membros do Governo até ao próprio primeiro-ministro. Foi então que se soube que a Spinumviva afinal não servia apenas para gerir o património familiar herdado por Montenegro, como tinha afirmado no debate da moção de censura do Chega, mas era sobretudo uma forma de prosseguir numa empresa de consultoria a atividade que já prestava na sua sociedade de advogados, recebendo avenças de várias empresas, entre as quais a Solverde e outras ligadas ao universo empresarial da família Violas.
Apesar de Hernâni Dias ter sido a primeira peça de dominó a cair numa cascata de suspeitas que acabou por levar o primeiro-ministro a forçar uma moção de confiança com vista a eleições, o ex-governante vai poder ser recompensado com o lugar de cabeça de lista da AD pelo círculo de Bragança, onde presidiu à Câmara Municipal da sede de distrito. O nome de Hernâni Dias foi proposto pela distrital e aprovado pela direção nacional do partido, devendo ser confirmado na reunião do Conselho Nacional esta quarta-feira.
Acusados do Tutti Frutti envolvidos nas escolhas de deputados da AD por Lisboa
Em Lisboa, onde o PSD viu autarcas e dirigentes locais acusados de vários crimes no âmbito do processo Tutti Frutti, a direção do partido tinha chamado a si a escolha das listas aos órgãos autárquicos da cidade para as eleições que se devem realizar em setembro ou outubro. Mas para as legislativas não seguiu o mesmo critério, revela esta quarta-feira o jornal Expresso.
O líder da distrital de Lisboa do PSD é Ângelo Pereira, que suspendeu o mandato de vereador de Carlos Moedas após a acusação de recebimento indevido de vantagem quando era vereador em Oeiras, ao viajar para a China a expensas de uma empresa que recebeu contratos dessa autarquia. Esta semana, foi Ângelo Pereira a entregar à direção nacional do PSD a lista com os nomes propostos para deputados pelo círculo de Lisboa.
Com a acusação do Tutti Frutti, o líder da concelhia, Luís Newton, ficou também impedido de participar na elaboração das listas do PSD à Câmara, Assembleia Municipal e freguesias. Mas o autarca acusado de cinco crimes de corrupção ativa e outros cinco de prevaricação, que suspendeu o mandato de deputado embora tenha continuado à frente da Junta de Freguesia da Estrela, pôde propor agora nomes para deputados pela concelhia lisboeta às legislativas de 18 de maio.