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Gene Sharp: Morreu o autor do livro "Da Ditadura à Democracia"

Gene Sharp é o autor de cerca de 30 obras sobre os princípios teóricos do pacifismo e da promoção da democracia, incluindo “Da Ditadura à Democracia: Uma Abordagem Conceptual para a Libertação”, que motivou a prisão de 17 ativistas angolanos. Sharp faleceu no passado domingo, aos 90 anos.
Foto de Ruaridh Arrow, publicada em wagingnonviolence.org

O autor norte-americano Gene Sharp morreu no domingo passado, aos 90 anos, anunciou na quarta-feira a The Right Livelihood Awards. De acordo com esta organização, que o galardoou em 2012 com o chamado ‘Nobel alternativo’, Sharp “desenvolveu e articulou princípios e estratégias de resistência pacífica e apoiou a sua implementação prática em áreas de conflito ao redor do mundo”.

O escritor norte-americano, nascido a 21 de janeiro de 1928 em North Baltimore, Ohio, é o autor de cerca de 30 obras sobre os princípios teóricos do pacifismo e da promoção da democracia.

Sharp graduou-se em Ciências Sociais (1949) e obteve um mestrado em Sociologia (1951) pela Universidade Estadual de Ohio. Posteriormente, completou o seu doutoramento em Teoria Política na Universidade de Oxford, em 1968.

Foi professor na Universidade de Massachusetts Dartmouth desde 1972. Várias vezes nomeado para o Prémio Nobel da Paz, Gene Sharp fundou a The Albert Einstein Institution, uma organização sem fins lucrativos que estuda o uso da ação política não-violenta em todo o mundo.

Em maio de 2016, o autor da obra “Da Ditadura à Democracia: Uma Abordagem Conceptual para a Libertação”, que motivou a prisão de 17 ativistas angolanos, afirmou, em entrevista à agência Lusa, que o regime liderado por José Eduardo dos Santos estava enfraquecido, como indiciava a “prisão de adolescentes”.

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“Quando um Governo prende adolescentes por estarem a ler livros isso mostra que estão nervosos, porque sabem melhor do que ninguém que o seu sistema está enfraquecido”, frisou Sharp.

“Prender um jovem de 19 anos é um sinal de que o regime está muito fraco”, acrescentou.

Gene Sharp referiu ainda que o seu trabalho, uma das fontes de inspiração da resistência civil que levou às Primaveras Árabes, “não se centra em determinar até que ponto um governo é ditatorial ou democrático”, mas na análise do sistema político.

De acordo com o autor norte-americano, além do modo de eleição, um sistema político ditatorial é também definido por um ambiente em que “liberdades cívicas básicas não existem e a oposição enfrenta repressão”.

“Não sou especialista em Angola. No entanto, muitos governos, particularmente aqueles que são autoritários e ditatoriais, acreditam que todo o conhecimento sobre ação não-violenta é subversivo porque articula como um governo não pode governar as pessoas se estas pessoas decidirem não ser governadas por ele”, vincou.

Sharp explicou que o seu livro não é um manual de instruções sobre como derrubar um Governo, até porque “cada luta não violenta ocorre no contexto de um ambiente doméstico único”.

“Seria irresponsável e presunçoso tentarmos aplicar uma mesma fórmula para todos. Não é esse o nosso papel. O nosso papel é disseminar informação, dar ferramentas, e tornar esses recursos tão disponíveis quanto possível. Como usar essas ferramentas é determinado pelos indivíduos e grupos”, avançou.

Sharp afirmou ainda que “qualquer ditador ou regime opressivo considera” este conhecimento “ameaçador porque cria a perceção de quão fraco e sem poder é realmente.”

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