A maior fuga de informação classificada militar da ultima década, desde que Edward Snowden revelou o sistema de vigilância eletrónica global dos EUA, ainda tem por apurar a sua origem. Mas pelo que se sabe, os documentos que vieram a público com detalhes da preparação militar na guerra da Ucrânia ou de como os serviços de informações norte-americanos espiam países aliados como a própria Ucrânia, Israel ou Coreia do Sul, são apenas uma pequena parte dos que foram inicialmente colocados online.
Segundo o diário britânico Guardian, que cita o portal Bellingcat, a origem das publicações esteve num servidor do Discord usado por apenas 20 pessoas, fãs de um Youtuber que publica vídeos sobre armas e parafernália militar. Esses documentos terão sido ali publicados em outubro, mas só em fevereiro deste ano um dos participantes nesse servidor colocou alguns dos documentos num servidor mais popular, usado por fãs de outro Youtuber, desta vez um filipino residente no Reino Unido famoso pelos seus memes sobre história asiática e europeia. Mas mesmo assim as imagens não despertaram atenção, nem quando algumas foram republicadas noutro servidor usado por fãs do jogo Minecraft. Foi já este mês, quando alguém publicou três imagens no fórum 4chan, popular entre a extrema-direita estadunidense, e dias depois num grupo do Telegram - aqui com algumas partes modificadas para aumentar as baixas ucranianas e diminuir as russas -, que soaram os alarmes quanto à fuga de informação.
Os documentos em causa estão classificados como "top secret" e "Noforn", que significa que não devem ter acesso a eles pessoas de outras nacionalidades. E há documentos datados do mês passado, sugerindo que o autor da fuga de informação prossegue a sua atividade.
"Não sabemos quem está por trás disto, não sabemos qual é o motivo ou o que mais pode estar a fazer aí fora", afirmou John Kirkby, um dos porta-vozes da Casa Branca. O porta-voz do Pentágono diz que o secretário da Defesa, Lloyd Austin, só soube da fuga de informação a 6 de abril. Ambos alertam para a existência de documentos manipulados a circular e o risco de poderem gerar campanhas de desinformação.
A maioria dos documentos conhecidos dizem respeito a planos militares da guerra da Ucrânia, incluindo mapas das defesas aéreas, consideradas em risco de perder eficácia por falta de munições nas próximas semanas. Mas também inclui uma análise sobre os planos secretos e as reticências da Coreia do Sul e Israel para fornecer centenas de milhares de munições para a defesa aérea ucraniana, detalhes sobre o apoio dos EUA na logística e planeamento do conflito militar, ou um plano secreto do presidente do Egito para fornecer 40 mil rockets à Rússia.