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Franceses voltaram às ruas contra o aumento da idade de reforma

As manifestações desta terça-feira por todo o país juntaram quase dois milhões de pessoas, segundo as contas dos sindicatos, e repetem-se no sábado. Greves continuam nas refinarias, centrais elétricas e comboios.
Manifestação em Paris. Foto Teresa Suarez/EPA

Terça-feira foi dia de nova mobilização nacional contra a reforma das pensões em França, convocada pelas oito centrais sindicais que se opoem ao projeto. A participação não atingiu o nível da de 31 de janeiro, considerada a maior das últimas décadas, e que nas contas dos sindicatos terá juntado 2,8 milhões de pessoas. Desta vez, a CGT anunciou a presença de quase dois milhões de pessoas nas centenas de protestos e o Ministério do Interior contou 757 mil manifestantes.

No entanto, a quebra na participação não se traduz em desmobilização face aos planos do Governo. E isso é visível na quantidade de concentrações realizadas em localidades sem tradição de lutas e com maioria eleitoral de direita. Por outro lado, para este sábado estão marcadas mais manifestações, que os sindicatos esperam poder contar com famílias inteiras e muitos trabalhadores que não quiseram meter mais um dia de greve para participar na desta terça-feira.

Ainda os franceses se manifestavam nas ruas e o Parlamento discutia e aprovava por 246 votos contra 229 o artigo que introduz a reforma das pensões. Para a história parlamentar ficará a intervenção da deputada socialista Iñaki Echaniz, na pergunta que fez ao ministro do Trabalho Olivier Dussopt sobre esta reforma "duplamente injusta", ao repetir quase palavra por palavra a pergunta que o então deputado Olivier Dussopt tinha feito em 2010 a Eric Woerth, o ministro do Trabalho de Sarkozy, quando o Parlamento discutia a proposta de aumentar a idade da reforma dos 60 pra os 62 anos. Os deputados começaram a discutir o fim dos regimes especiais de previdência como os dos trabalhadores dos transportes públicos da região de Paris, do Banco de França ou das indústrias da eletricidade e gás, com o executivo a tentar negociar a sua proposta para conseguir o apoio da direita dos Republicanos, de forma a evitar fazer tramitar a lei através do artigo 49-3 da Constituição, que permite a aprovação sem votação de uma proposta.

A par das manifestações contra o projeto de Macron para subir a idade de reforma dos 62 para os 64 anos, também houve greves, sentidas com mais intensidade nosserviços públicos e em setores como o ferroviário, energia elétrica e petrolífero.

Nas centrais da EDF, a produção elétrica reduziu-se em 1000 MW durante a noite de terça para quarta-feira, depois de uma baixa de 7000 MW durante o dia, o que corresponde a "10% do consumo francês", segundo a CGT, mas sem provocar cortes no abastecimento elétrico. No tráfego ferroviário, a circulação permanece com perturbações esta quarta-feira, com a empresa SNCF a prever em média a circulação de dois TGV em cada três previstos.

Greve prossegue na TotalEnergies, que duplicou os lucros no ano passado

A paralisação de dois dias prossegue esta quarta-feira também no setor petrolífero, com a adesão a chegar aos 100% no depósito de combustíveis da TotalEnergies perto de Dunquerque, 80% na refinaria de Donges, 70% na de Feyzin e 56% na da Normandia, diz a CGT citada pela France Presse. A greve afeta também o transporte de combustíveis das refinarias para os postos de abastecimento. A administração da petrolífera diz que em média a greve conta com 46% de adesão em todas as refinarias.

Esta greve coincide com o momento do anúncio de que os lucros da petrolífera TotalEnergies duplicaram em 2022 para 36,2 mil mihões de dólares, uma tendência semelhante aos das outras gigantes do petróleo como a Shell ou a BP, graças aos aumentos das margens de refinação e do proço do petróleo. Este lucro da TotalEnergies não tem em conta as perdas com as provisões constituídas com a saída da Rússia, mas se as incluísse o lucro aumentaria à mesma 28% em relação ao ano anterior.

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