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A força que nos derem será utilizada para melhorar o país

No comício de Bragança, Catarina Martins falou nos problemas do interior, sublinhando que “a beleza desta paisagem não é para cartão postal, é para qualidade de vida de quem aqui vive, para a defesa do ambiente”. Mariana Falcato Simões e Pedro Oliveira, cabeças de lista de Vila Real e Bragança, deram voz aos problemas dos seus distritos.
Foto de Paula Nunes.

Num comício concorrido numa capital de distrito do interior do país, Catarina Martins quis realçar a força de quem aí luta porque “também aqui há gente que se levanta, há mais gente que se organiza”, salientando que as lutas contra a precariedade e o conservadorismo, para que “o Serviço Nacional de Saúde funcione”, pela Escola Pública e pela Justiça, por exemplo, também são lutas destas regiões.

A coordenadora do Bloco saudou, por exemplo, quem “denuncia a hipocrisia dos partidos do centrão que dizem sempre que o interior tem uma paisagem muito bonita e nunca hesitaram em fazer aqui os maiores danos ambientais do país esperando que não estivesse ninguém a ver”. E vincou que “a beleza desta paisagem não é para o cartão postal, é para a qualidade de vida de quem aqui vive e é para a defesa do ambiente”. Lembrou também a visita realizada à tarde onde se deparou com a precariedade do Ensino Superior. Uma precariedade que vai desde as trabalhadoras da limpeza que ganham baixos salários numa universidade até aos investigadores precários e com salários de miséria.

E precisamente o conhecimento foi uma das linhas de força da sua análise do interior. Porque “não queremos que o conhecimento fique fechado nas universidades” mas este deve “ser posto ao serviço do país” de forma a que não haja “um país a duas velocidades” e a que se possa “viver muito melhor neste país”.

Catarina Martins salientou também a necessidade de mais apoios por causa dos fogos, de alterar a PAC porque “vai sempre para os mesmos”, quando o que é preciso é “por os fundos ao serviço de todo o território, dos pequenos agricultores”, de mais investimento público, nomeadamente num plano ferroviário nacional que ligue todo o país e não permita “que o interior seja a paisagem que se vê no comboio na ligação entre os portos e Espanha”.

Para além disso é precisa a “coragem de reabrir serviços públicos” uma vez que foram as zonas do interior que mais sofreram com o seu encerramento, sendo o caso dos CTT um dos mais gritantes. A coordenadora do Bloco respondeu a quem pergunta “se há dinheiro para nacionalizar os CTT e nacionalizar serviços públicos” que “a questão nunca é se há dinheiro. É saber para onde ele vai”. E para o Bloco deve ir para os CTT públicos e para serviços públicos em todo o território.

Fizemos o que nunca tinha sido feito, agora é voltar a fazer acontecer

Catarina Martins também tratou da situação política geral do país voltando ao anterior momento de escolha: as eleições de 2015. Aí, “diziam que já estava tudo decidido, que já não havia nada a fazer, ou vinha a direita espatifar tudo, ou então viria o Partido Socialista que apresentava na altura o seu programa mais à direita de sempre e que o país estaria condenado a discutir se ia empobrecer mais depressa ou mais devagar”.

A dirigente do Bloco pensa que ficou provado que “não era assim” e que “a força que nos derem será sempre utilizada para melhorar o país”. Ao longo de quatro anos “fizemos o que nunca tinha sido feito em Portugal porque quem levantou a cabeça e não escolheu o mal menor mas escolheu com convicção deu a força ao Bloco de Esquerda para condicionar o ciclo político”.

Para além de ter mudado “o paradigma” já que “toda a gente sabe agora que não há só duas escolhas” e que “não há hoje nenhuma força política que tenha a coragem de chamar aos mais velhos peste grisalha ou de dizer aos mais novos que devem emigrar porque há aqui um país que se respeita, que se leva a sério”, também foram assegurados: o aumento do salário mínimo nacional para 700 mil trabalhadores em Portugal; ao contrário do que a direita e o PS prometiam não houve cortes nem congelamentos de pensões; começou-se a desfazer o enorme aumento de impostos de Vítor Gaspar com o fim da sobretaxa e com mais escalões no IRS e garantiu-se tarifa social da energia “para mais de 800 mil famílias que precisam dela”.

Por tudo isto, Catarina pensa que é outra vez tempo de mostrar que “o voto é a força para fazer acontecer”, investimento público “onde ele é necessário”, nasaúde, educação, habitação e território, numa segurança social mais forte, que acabe com fator de sustentabilidade, no trabalho digno com salários dignos.

É preciso imaginar um outro interior

Mariana Falcato Simões, cabeça de lista por Vila Real, lembrou o seu percurso académico em Trás-os-Montes numa altura em tinha “a vida facilitada” porque “as propinas tinham um valor bem abaixo do de hoje, havia alojamento disponível e a especulação imobiliária ainda não tinha feito estragos”. Hoje, não teria a “absoluta certeza se me teria sido possível frequentar o ensino superior nas condições de hoje”, assegura.

Lembrou também que os problemas de mobilidade hoje são diferentes mas “as pessoas e as empresas destas regiões gastam uma pequena fortuna do seu orçamento em portagens e combustíveis” e “os transportes coletivos são um problema crónico”. Se há mais autoestradas, Mariana Falcato Simões não deixou de indicar que há menos ferrovia que, para o Bloco, é também questão de “coesão territorial e descarbonização da economia”.

A cabeça de lista bloquista por Vila Real acredita que “é preciso inverter o declínio e a desertificação” e “imaginar um outro Interior”, “um Interior que oferece mais que qualidade de vida e belas paisagens, um Interior que oferece emprego, saúde pública e gratuita, escolas onde é um prazer aprender” e “que protege os seus recursos naturais, a sua água, a sua biodiversidade, a sua floresta”, com políticas de reordenamento da floresta e que direciona a política agrícola comum para uma transição ecológica das explorações florestais, agrícolas e animais.

Não nos sentimos representados

Por sua vez, Pedro Oliveira, cabeça de lista por Bragança, destacou que “mesmo não tendo nenhum deputado eleito por Bragança nunca deixou o distrito para trás” tendo, por exemplo, questionado governo sobre os profissionais de saúde no hospital de Bragança, denunciado a degradação das instalações da Escola Básica e Secundária Miguel Torga, não se resignado com o encerramento das Estações dos CTT ou denunciando os crimes ambiental no Cachão, entre vários outros exemplos.

Pedro Oliveira acredita que “vale a pena viver em Bragança e que aqui se pode viver condignamente, sem o medo constante de perder serviços, mobilidade e empregos” e também que é “possível fazer mais e melhor”.

O candidato mostrou-se preocupado com as alterações climáticas e os efeitos “nas culturas que são arrasadas e nas catástrofes que os incêndios têm causado”, reivindicou “um plano de mobilidade eficiente para o distrito”, condenando o desmantelamento da linha do Tua através de um “desinvestimento ferroviário que era visível a todos” e opôs-se à “pobreza energética” que se vive no distrito de Bragança.

Para além disso, mostrou ainda preocupação com encerramento de serviços públicos, como o fecho de escolas e tribunais e a perda de valências nos hospitais do distrito. Por tudo isto, Pedro Oliveira diz que “não nos sentimos representados”, ou seja, “não sentimos que aqueles que foram eleitos para debaterem na Assembleia da República os problemas da região o façam.” Mas o que se tem sentido é que “o fosso interior/litoral é cada vez maior”. O voto no Bloco será uma forma de “mostrar que não nos resignamos e que queremos mais e melhor para Bragança”.

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