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Fim da apanha da azeitona vai aumentar imigrantes sem abrigo em Beja dizem associações

Muitos migrantes já vivem nas ruas do Baixo Alentejo porque os patrões não pagam o que lhes é devido ou porque deixaram de ter trabalho. A situação vai piorar numa altura em que o inverno aperta.
Timorenses em Serpa em busca de trabalho. Foto de NUNO VEIGA/LUSA.
Timorenses em Serpa em busca de trabalho. Foto de NUNO VEIGA/LUSA.

Nos próximos dias terminará a época da apanha da azeitona o que vai significar um aumento do número de imigrantes sem abrigo no Baixo Alentejo, segundo denunciam associações como a Cáritas e a Estar.

O jornal Público falou com as duas associações que estão no terreno a prestar apoio a esta população. O provedor da Cáritas Diocesana de Beja, Isaurindo Oliveira, salienta que “nestes últimos dias já foi sinalizada mais de uma dezena de pessoas” que ficaram sem abrigo e que “estas pessoas têm de ser alojadas num período em que o frio aperta”. Para isso, já alertou o diretor do Centro Distrital da Segurança Social de Beja de forma a que este acione o Plano de Proteção Civil. O dirigente associativo critica ainda a “falta de organização e de planeamento” no apoio a estas pessoas. A Cáritas iniciou o projeto de apoio aos sem-abrigo em Beja “Estou tão perto que não me vês” em março e, desde então, sinalizou 289 pessoas a viveram nestas circunstâncias.

Madalena Palma e Inês Féria, dirigentes da Estar, associação que apoia imigrantes, avisam que “a cidade de Beja está a enfrentar situações muito dramáticas sem conseguir dar resposta ao nível de habitação de emergência e, mais grave ainda, está a enfrentar situações de fome num número de casos bastante considerável”. Dizem que por dia atendem até 80 pessoas.

A reportagem foi ainda ao encontro de algumas das pessoas que estão a viver nas ruas como dois marroquinos que contaram como estiveram a trabalhar durante cinco meses para a empresa “Decisão Afável”, propriedade de um romeno, mas só receberam o salário de um mês no valor de 705 euros. Têm contrato de trabalho assinado e documentos do Fisco em ordem.

O provedor da Cáritas explica que estas pessoas não querem ser identificadas “com receio das consequências” e que outros, timorenses nesse caso, “foram postos na rua por terem denunciado publicamente a sua situação e outros foram expulsos do trabalho”.

Vários outros trabalhadores imigrantes na região viveram casos semelhantes: são contratados para trabalhar na agricultura, não recebem todo o salário a que têm direito, o dinheiro que lhes é pago não é suficiente para pagar alojamento e ficam nas ruas.

O jornalista Carlos Dias tentou contactar também os trabalhadores migrantes que foram vítimas da rede desmantelada a semana passada mas não obteve sucesso: “o muro de silêncio para chegar a eles é grande em Beja”, conclui.

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