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Famílias europeias vão gastar mais 230 mil milhões de euros em energia

A fatura da crise energética provocada pela guerra na Ucrânia pode ser o dobro do previsto em fevereiro. Portugal já é dos países onde mais se gasta em energia e onde a eficiência energética é menor.
Foto de Paulete Matos

Na semana passada a Bloomberg noticiou que o aumento dos preços da eletricidade, dos combustíveis e do gás natural se iria traduzir num incremento dos gastos pelas famílias na União Europeia em 230 mil milhões de euros, sendo 130 mil milhões em consumo energético doméstico e 99 mil milhões em custos de combustíveis. Este valor representa 1,8% do PIB da UE e é mais do dobro do que se estimava em fevereiro.

No entanto, se é verdade que os preços aumentaram muito desde o início da invasão da Ucrânia, também o é que este tipo de despesas já era antes uma parte substancial do rendimento das famílias. O Inquérito ao Consumo de Energia no Sector Doméstico realizado em 2020 registava que, apesar de uma maior contenção no consumo de energia, resultado de uma maior sensibilidade climática e de necessidade material, as despesas associadas aumentavam. “As estatísticas mostram assim que os portugueses estão agora a consumir menos 30% de energia, mas a pagar mais 4,4% pela energia que consomem”, escrevia o jornal ECO em julho do ano passado. E acrescentava: “Somando parcela a parcela, e para uma família com um carro a diesel (1253 euros por ano em combustível), que pague conta de eletricidade (751 euros/ano) e de gás natural (296 euros/ano), a fatura de energia disparou em 2020 para os 2.300 euros”.

Também se voltou a verificar o ano passado que Portugal é dos países em que a energia é mais cara - é o 8º na UE em termos de eletricidade e 7º em relação ao gás.


Índice europeu de pobreza energética doméstica, com dados de 2019. Portugal está na 25ª posição entre 28 países.

 

Estes valores ajudam a compreender porque Portugal é dos piores países europeus em termos de pobreza energética, isto é, capacidade de usufruir “de forma adequada serviços energéticos tais como aquecimento, arrefecimento, preparação de refeições, iluminação ou entretenimento e informação através de equipamentos eletrónicos”. Segundo dados do Eurostat, 17,5% das famílias diz não ser capaz de manter a sua casa adequadamente aquecida, enquanto a média europeia é 8,2%.

Para além dos elevados preços da energia, a socióloga Ana Horta acrescenta a baixa eficiência energética generalizada do parque habitacional português e os baixos rendimentos das famílias, muitas vezes em condições de pobreza - em 2019 mais de 2,2 milhões de pessoas em Portugal estavam em risco de pobreza ou exclusão social.

Em 2020 o Governo calculava que seriam necessários 384 milhões de euros por ano até 2040 para melhorar a eficiência energética dos edifícios e combater a pobreza energética em Portugal.

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