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Faleceu a escritora Natália Nunes

A escritora Natália Nunes, autora dos romances "Regresso ao Caos" e "Assembleia de Mulheres", morreu esta terça-feira, na Ericeira, aos 96 anos.
Faleceu a escritora Natália Nunes
Foto: Global Images

Nascida em Lisboa, a 18 de novembro de 1921, Natália Nunes destacou-se através de romances como "Autobiografia de Uma Mulher Romântica" e "Vénus turbulenta". Publicou também como dramaturga e ensaísta, e construiu uma das mais vastas obras, como contista, na literatura portuguesa, com títulos como "Ao Menos um Hipopótamo", "As Velhas Senhoras" e "Louca por Sapatos".

Resistente antifascista durante os anos de ditadura, foi membro da direção da Sociedade Portuguesa de Escritores, encerrada pela PIDE em 1965. Estreou-se na literatura em 1952, com "Horas vivas: Memórias da Minha Infância", a que se sucedeu "Autobiografia de uma Mulher Romântica" (1955). Vivia então em Coimbra, onde fez o curso de Bibliotecária-Arquivista (1956), depois da licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas (1948), na Universidade de Lisboa.

No primeiro livro, "Horas Vivas", a escritora "reflete o ambiente quase medieval, dessa altura, na Beira Alta, onde fez a maior parte da instrução primária". A partir de então, a escrita esteve sempre presente na sua vida, a par do trabalho nas Bibliotecas da Ajuda e Nacional, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e na Escola Superior de Belas-Artes, como bibliotecária e conservadora.

Da sua obra destacam-se "A Mosca Verde e Outros Contos" (1957), "Regresso ao Caos" (1960), "Assembleia de Mulheres" (1964), "O Caso de Zulmira L." (1967), "A Nuvem. Estória de Amor" (1970), "Da Natureza das Coisas" (1985), "As Velhas Senhoras e Outros Contos" (1992) e "Louca por Sapatos" (1996). "Vénus Turbulenta", o seu último romance, data de 1997.

Em memórias, além do livro inicial, contam-se "Uma portuguesa em Paris" (1956) e "Memórias da Escola Antiga" (1981). É autora da peça de teatro "Cabeça de Abóbora" (1970). A obra de ficção disponível da escritora está publicada na editora Relógio d'Água.

No ensaio, Natália Nunes escreveu ainda sobre Dostoievski, Raul Brandão, Augusto Abelaira e José Cardoso Pires, entre outros autores, sobretudo para as revistas Vértice e Seara Nova. Traduziu ainda Dostoievsky, Tolstoi, Simonov, Elsa Triolet, Violette Leduc, Balzac e Roger Portal.

O Dicionário de Literatura Portuguesa, coordenado por Álvaro Manuel Machado destaca, em Natália Nunes, o “sentido do intimismo e do confessional, do mistério e da solidão, herdado em grande parte da geração presencista”, a que juntou a "temática feminina e de intervenção social", próxima do neorrealismo.

A pedido do marido, o poeta António Gedeão, completou as "Memórias" do escritor, incluindo a data da sua morte, em fevereiro de 1997. "Não te digo adeus, a minha alma estará sempre contigo", escreveu, no termo da obra.

O corpo da escritora vai estar hoje, a partir das 16:00, na capela mortuária da Igreja de Santo Condestável, em Lisboa. O funeral realiza-se na quarta-feira, a partir das 16:00, para o Cemitério dos Olivais, onde será cremada.

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