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Facebook continua a permitir fake news sobre eleições no Brasil

Global Witness revela que a desinformação ainda está a ser aceite para publicação. Investigadores e defensores de direitos digitais escrevem ao Meta, TikTok, Twitter e YouTube sobre eleições brasileiras.
Foto de Pexels.

Jon Lloyd, consultor sénior da Global Witness, afirmou que, recorrentemente, a Meta, grupo que controla o Facebook, Instagram e WhatsApp, prometeu combater a desinformação e o ódio. “E, no entanto, mostramos repetidamente que essas políticas simplesmente não estão a funcionar”, assinalou Lloyd.

Ainda que a Meta pareça reconhecer o problema, isso não se está a traduzir na “aplicação efetiva de políticas para salvaguardar a integridade das eleições”, explicou o representante da Global Witness.

Jon Lloyd avançou ainda que “o Meta tem as ferramentas, tecnologia e mandato para tornar muito mais difícil a disseminação de desinformação no Facebook” e que “deve agora traduzir a conversa em ação global real”, já que falhar nessa missão “tem o potencial de alimentar tensões e minar a democracia num momento que já é tenso para o Brasil”.

“Sem emitir um plano claro e transparente que atenda à escala da ameaça no Brasil, é muito difícil confortarmo-nos com a resposta da Meta. As políticas de salvaguarda devem ser implementadas globalmente - os cidadãos de todos os lugares merecem o direito de ter suas democracias protegidas, não apenas onde a Meta considera valer a pena”, frisou.

As falhas detetadas pela organização internacional, que criou publicações com desinformação flagrante, e todas foram aprovadas pelo Facebook, são semelhantes às descobertas em Myanmar, Etiópia e Quénia.

Carta aberta de investigadores e defensores de direitos digitais

Em carta aberta, um grupo de investigadores e defensores de direitos digitais, entre outros, afirmam-se preocupados com a disseminação generalizada de desinformação e ameaças de violência nas plataformas controladas pelo Meta e no TikTok, Twitter e YouTube antes e depois das eleições no Brasil de dia 2 de outubro.

“É promissor que alguns de vós já tenham anunciado planos para conter a disseminação de desinformação relacionada às eleições. No entanto, as ações falam mais alto que as palavras”, escrevem.

Organizações internacionais como a Global Project Against Hate and Extremism, Global Witness, Africa Sans Haine, entre muitas outras, defendem que “promessas e declarações à imprensa não são suficientes”.

“Em vez disso, precisamos ver uma ação real nos próximos meses e iremos responsabilizar-vos se essa ação não for suficiente”, apontam.

Os coletivos declaram o seu apoio a mais de 110 organizações da sociedade civil brasileira e exortam as plataformas a responder “às recomendações de políticas do relatório ‘O papel das plataformas digitais na proteção da integridade eleitoral nas eleições brasileiras de 2022’”.

Conforme é sublinhado na carta aberta, as 38 recomendações incluídas no documento visam garantir “a proteção adequada dos direitos individuais e coletivos e proteger a integridade eleitoral, abrangendo: políticas de combate à violência política contra mulheres, negros, indígenas, populações tradicionais, quilombolas e LGBTQIA+; políticas de combate à desinformação que afeta a Amazónia, o clima, o meio ambiente e a agenda dos povos indígenas e tradicionais; regras para garantir os direitos dos utilizadores e mitigar danos decorrentes de erros de atuação da plataforma; bibliotecas de anúncios transparentes e iguais; e diretrizes gerais sobre a proteção da integridade eleitoral”.

“Já vimos indícios de pessoas nas redes sociais a procurar desacreditar o processo eleitoral e ameaças de violência neste ciclo eleitoral contra candidatos, principalmente indígenas e mulheres. É fundamental para a saúde da nossa democracia, da nossa sociedade e do nosso meio ambiente que ajam o mais rápido possível”, rematam as cerca de três dezenas de organizações signatárias.

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