F. Rosas: “Silva Pais ordenou e autorizou a operação que levou à morte de H. Delgado”

20 de junho 2011 - 12:56

Fernando Rosas considera que no julgamento sobre a peça “A Filha Rebelde” “a família [de Silva Pais] não tem sombra de razão”, mas alerta que o resultado do julgamento “pode ser gravíssimo para a liberdade de expressão e de investigação”.

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Fernando Rosas alerta que o resultado do julgamento “pode ser gravíssimo para a liberdade de expressão e de investigação”

Em entrevista à agência Lusa, Fernando Rosas afirma sobre Silva Pais que “foi ele quem ordenou e autorizou a operação que visava prender o general Humberto Delgado e que acabou no seu assassínio”, sublinhando ainda que Silva Pais “foi totalmente conivente com o encobrimento que posteriormente a polícia fez à eliminação de todas as provas [do assassínio de Humberto Delgado], como a destruição do automóvel”.

O historiador refere que “só depois do 25 de Abril [de 1974] é que uma investigação séria e completa o demonstrou e foram condenados em tribunal por isso”, realçando que “há suficiente evidência empírica recolhida para saber que ele [Silva Pais] teve conhecimento e autorizou a operação, a sancionou e agiu activamente no sentido do seu encobrimento posterior. Devia ter sido o primeiro a responder”.

Fernando Rosas diz ainda que “o facto de [Silva Pais] ter morrido antes da sentença não elimina as responsabilidades que teve em vida e que estão perfeitamente estabelecidas quer pela investigação policial quer pela investigação histórica”, concluindo que “a família não tem uma sombra de razão” no processo que moveu contra a autora da peça “A Filha Rebelde” e a dois ex-directores do Teatro D. Maria II.

Pronunciando-se sobre o processo, o historiador considera que “o que se está a tentar é silenciar a investigação que já há e a que se tem vindo a fazer sobre as violências e os abusos cometidos por aquela polícia política” e alerta: “Se não se pode acusar um determinado inspector da polícia de ter praticado tortura ou de ter sido autor moral ou material de um assassínio, de repente qualquer investigador que chega a essa conclusão nos seus trabalhos não a pode publicar porque pode ser objecto de um processo em tribunal, significa que a partir de aqui cada investigação tem sempre sobre si uma espada de Dâmocles”, acrescentando que “deste modo cada bandido, cada PIDE, cada trucidário, cada bandido sente-se animado por uma sentença imprudente a perseguir os investigadores”.

Salientando que o resultado do julgamento “pode ser gravíssimo para a liberdade de expressão e de investigação”, Fernando Rosas confia na justiça e vaticina: "A justiça saberá dar a este caso a resolução que ele deve ter".