“A extrema-direita é o novo rosto dos donos disto tudo”

26 de maio 2024 - 18:08

Num almoço em Boliqueime, Mariana Mortágua desmascarou os interesses económicos que financiam a extrema-direita para prosseguir os seus interesses. Catarina Martins referiu que a direita está disponível a criar uma “aliança do recuo” com parte desta área política.

PARTILHAR
Mariana Mortágua. Foto de Rafael Medeiros.
Mariana Mortágua. Foto de Rafael Medeiros.

O caso do fundador da Blackstone que voltou a apoiar Trump foi o mote escolhido por Mariana Mortágua para explicar o poder da extrema-direita num almoço em Boliqueime.

Este, salienta, é “o maior fundo de investimento do mundo” e tornou-se o maior proprietário do mundo “parasitando a crise financeira”, ficando “com as casas que foram despejadas, com as casas das pessoas que não conseguiram a dar empréstimo ao banco, foram para a rua ou ganharam como seu proprietário e arrendatário este fundo de investimento”. A ONU acusa-o com a sua política de despejos, de contribuir para a crise da habitação e de subir as rendas e o valor da propriedade.

Este apoio mútuo entre extrema-direita e Blackstone “diz-nos alguma coisa sobre de onde vem este poder da extrema direita no mundo”, considera. Mostra que “o poder da extrema direita vem do poder financeiro” e a “extrema-direita tem poder porque é novo rosto dos donos de isto tudo.

O seu papel é “desviar as atenções enquanto protegem, beneficiam, estes grandes interesses económicos”, dizendo “não olhes para o fundo de investimento que ficou com a tua casa, aumentou a tua renda, olha para o vizinho que paga a mesma renda que tu mas que tem um apoio social, para o imigrante que não tem casa”.

A coordenadora bloquista passou em seguida à extrema-direita nacional revelando o papel de Francisco Cruz Martins com “angariador de financiadores do Chega, ele que esteve “envolvido em Vale do Lobo, nos Panamá Papers”, que foi “intermediário de negócios imobiliários para lavar a fortuna de gente do regime em Angola”. O que tornou pouco surpreendente que aquele partido defenda os vistos gold, sendo “tão patriota, mas tão patriota que não dá vistos de residência, vende vistos de residência para quem tiver dinheiro para pagar” e “não faz perguntas, não quer saber se esse dinheiro é da corrupção, se é de lavagem de dinheiro, se esse dinheiro é o que o compradores que falam português ou não fala, em português”.

Por estas ligações também não é surpreendente que o partido defenda “mais hotéis, mais alojamento local, mais turismo de massas, mais agricultura intensiva”. “Eles só querem saber do negócio dos seus financiadores e dos interesses económicos que estão a defender”.

Mariana Mortágua

Mariana Mortágua vinca ainda que não é “por acaso” mas porque “é suposto” que os salários sejam baixos, o trabalho seja precários, os imigrantes sejam “indocumentados e explorados”, as casas caras”. Tudo isto acontece para que “estes interesses lucrem”.

O Bloco quer-se apresentar por contraste como o partido “capaz de denunciar este modelo económico” porque “não há nenhum interesse imobiliário a financiar este partido”: “não temos cartas na manga, não temos interesses escondidos, não temos amarras, não temos nenhum compromisso que não seja compromisso com o nosso povo”, concluiu.

Bloco apresenta-se nas Europeias contra a “aliança do recuo”

Catarina Martins dedicou parte da sua intervenção a mostrar que o resultado das eleições europeias é importante. Aí “decidimos se há escola, se há comboio, até decidimos a portagem da autoestrada”, o “preço da habitação e o preço do medicamento”. Também no que diz respeito ao clima, onde se têm de tomar “decisões concretas” sobre redução de emissões para mitigar os efeitos das alterações climáticas antes do final do próximo mandato no Parlamento Europeu. E nas questões do investimento e na de decidir “se a inovação de que o mundo é capaz significa progresso social ou se é só atraso”.

Catarina Martins

Sobre esta última deu exemplo da Covid que mostrou “como o mundo poderia ter acesso aos melhores cuidados de saúde e aos mais inovadores medicamentos a preços que toda a gente pudesse pagar”. Para a candidata bloquista, “a inovação tem que estar em serviço de Progresso Social”.

Outro exemplo é o trabalho: “nós não podemos viver num mundo em que a tecnologia significa ser ritmos mais altos, mais intensos de trabalho e nunca mais tempo para viver”, defendeu.

A propósito da possibilidade de crescimento da extrema-direita criticou que haja “uma direita que está sempre disponível para lhe dar a mão”. Para além disso, o candidato da direita, Sebastião Bugalho, “atrapalhou-se” a falar nos direitos das mulheres e “já garantiu que não vai apoiar nenhum avanço” nesse tema, não tendo esclarecido “o que é que pensa dos direitos que já existem”. O Bloco não quer só “evitar recuos” que “mesmo avanços nos direitos e na igualdade”. Aquele vai “ficar sentado ao lado da extrema direita com que a sua candidata a presidente da Comissão já está a negociar a futura Comissão Europeia”, sendo esta a “aliança do recuo”. Com o Bloco a apresentar-se em nome da “aliança dos avanços.

Há um consenso entre socialistas, liberais, direita e extrema-direita “para manter a política económica fora da democracia”

O eurodeputado José Gusmão defendeu que “são aqueles que, ao longo dos anos, têm sido críticos da integração europeia existente, são aqueles que têm apontado os problemas no funcionamento das instituições europeias que têm sido capazes de encontrar soluções”, exemplificando com os eurobonds, “uma proposta pela qual o Bloco se andou a bater durante anos” e que “de repente” tornou possível “uma resposta um pouco diferente” à crise pandémica e com a dívida pública europeia agora já aceite mas só “para comprar armas”.

O candidato bloquista sublinha ainda que há um “grande consenso do centro de política europeu”, entre socialistas, liberais e direita, e também o Chega, “para manter a política económica fora da democracia”, como é o caso da política monetária, decidida por um Banco Central Europeu “inimputável”, “que impõe uma política monetária que fez disparar os custos da habitação em nosso país”.

José Gusmão

Encontrou ainda outro consenso, este formado no final deste mandato para mudar as regras de governação económica. Sobre este acusou PS e PSD de terem candidatos que “das duas uma, ou não sabem o que está nas novas regras de governação económica, ou estão a enganar as pessoas”. A cabeça de lista do PS “parece não saber que as velhas regras vão continuar em vigor” e que “a única coisa que mudou é que a Comissão Europeia Europeia ficou com poderes sem precedentes na História da União Europeia para impor quantos euros em despesa exata que cada país vai poder fazer”. Sendo “extraordinário” que socialistas se juntem a liberais e à direita “para impor novas regras de governação a economia que constituem o regime de resgate permanente contra os governos democraticamente eleitos”.

Por sua vez, Sebastião Bugalho, cabeça de lista da AD “está simplesmente à nora”, tendo afirmado que Portugal não se teria que se preocupar com as novas regras porque tendo um superavit orçamental elas não se lhe aplicariam, “ora isso não é verdade”, refuta.

E finalizou vincando que para os países europeus investiram na transição climática e nos seus estados sociais vão ter de investir.

O modelo de agricultura intensiva do agro-negócio é “insano”

Fátima Teixeira, também candidata a estas eleições europeias, centrou a sua intervenção nos problemas ambientais causados pelo agro-negócio da agricultura intensiva nas regiões mais a sul do país. Para ela, Alentejo e o Algarve como o Sul de Espanha, “estão já em grave situação de aridez, em risco de se tornarem desérticas com a ameaça das alterações climáticas”.

E este modelo industrial de produção agrícola, que considerou “insano” está “a esgotar todos os recursos hídricos à mesma velocidade a que são atribuídos os subsídios da União Europeia para o continuar”. A política agrícola comum “não serve para proteger os recursos naturais, a biodiversidade e as pessoas destes territórios”.

Fátima Teixeira

As culturas intensivas de regadio, por exemplo na Costa alentejana, são uma “atividade comparável ao extrativismo mineiro onde se exploram até à exaustão os solos, a água, os migrantes sem direitos reduzidos a alfaias agrícolas”. Ao mesmo tempo, “as pessoas que aí moram desde há décadas são as últimas a ser ouvidas”. E tudo isto se está a expandir para norte para a Charneca de Alcácer do Sal em plena Zona Especial de conservação, avisou.

“Não queremos que hino da alegria se possa transformar no Requiem de Mozart”

Guadalupe Simões falou nas questões de saúde e nos objetivos da ONU para o Milénio, indo contra a narrativa de que “não há dinheiro para os cumprir” quando esse dinheiro aparece para “comprar armas”, “para o tráfico humano” entre outras finalidades negativas.

Guadalupe Simões

Apelando ao voto nos candidatos do Bloco de Esquerda “para termos uma nova Europa mais justa, mais fraterna, mais solidária e onde todos possamos continuar a sonhar com o bem estar de todos”, afirmou que “não queremos que o hino da alegria se possa transformar no Requiem de Mozart”.