Com as eleições legislativas francesas à porta, a União Nacional apela a uma maioria absoluta. Jordan Bardella, o seu presidente, diz que não governará com maioria relativa porque não quer ser “colaborador” de Macron, fixando as suas prioridades em “menos imigração, mais paz fiscal”.
Ao mesmo tempo, deixa cair por terra promessas anteriormente emblemáticas na sequência de algumas críticas no mainstream político sobre o seu programa eleitoral ser "irrealista". Alheia a essas reviravoltas não será também a aproximação de mais setores do patronato à extrema-direita. O Financial Times titula que “os negócios” cortejam Marine Le Pen depois de verem o sentido em que iam as propostas do projeto de unidade à esquerda, a Nova Frente Popular e numa altura em que o campo político do Presidente da República está em crise depois do anúncio da convocatória de eleições antecipadas ter apanhado muitos de surpresa.
O L’Echos escreve que há uma expressão que “circula na boca dos patrões nos últimos dias: a “melonização” da extrema-direita francesa. Ou seja, acrescenta-se, “parte dos círculos económicos aposta no facto de Marine Le Pen fazer como Giorgia Meloni em Itália, e alterar um programa considerado prejudicial, se alguma vez chegar ao poder”.
A BMFTV nota que Bardella escreveu no jornal Parisien que a promessa da supressão do IVA nos produtos de primeira necessidade passa agora a ser remetida a “um segundo tempo” da governação, caso chegue ao poder.
O mesmo tinha dito antes sobre a reforma das pensões que mobilizou um descontentamento generalizado. O tema passou a ser considerado “não prioritário” e o chefe de fila da extrema-direita diz que poderá ser abordado “a partir do outono”, deixando antever que a questão se arrastará por bastante tempo. Outro “pormenor” é que isso dependerá das “consultas com os parceiros sociais e económicos”, diz o deputado Jean-Philippe Tanguy,. Sabendo-se de antemão as posições do patronato francês, isso não augura um cumprimento do que tinha sido prometido.
No mesmo canal, nota-se que “desde o início da campanha das eleições legislativas, a União Nacional parece modificar o seu programa todos os dias” com a justificação de uma situação orçamental “catastrófica”. Philippe Ballard, dirigente do partido, diz claramente que é preciso “ver o estado das finanças e em função do que vamos encontrar, vamos ajustar”. Admitindo que uma revogação da reforma das pensões poderia ter lugar apenas em “2025 ou 2026”.
Outras medidas emblemáticas anteriores, na campanha eleitoral de Marine Le Pen, como a supressão do imposto de rendimento para os menores de 30 anos, desapareceu das medidas agora apresentadas por Bardella. A própria esclarecia à TF1 que “a situação orçamental desastrosa deixada por Macron” não permitiria que o seu partido, caso chegue ao executivo, aplique as medidas que ela propunha.
Uma das promessas que se mantém, a de baixar o IVA da energia, gera agora também dúvidas porque o candidato a primeiro-ministro a atrela, explica o Echos, a uma redução de dois mil milhões de euros da contribuição francesa da União Europeia, o que parece estar longe das suas possibilidades.
A propósito destas reviravoltas, o deputado da França Insubmissa François Ruffin destacava no X que a página de campanha de Marine Le Pen para as presidenciais de 2022, que estava ativa ainda a semana passada, foi desativada, questionando se “a extrema-direita procura esconder o seu programa a alguns dias das eleições legislativas”, nomeadamente a sua mudança de posição sobre a reforma aos 60 anos de idade.
Le site de campagne de Marine Le Pen pour la présidentielle 2022, https://t.co/iEjTuRv17U, a été désactivé. Il était encore actif la semaine dernière.
Pourquoi ? L'extrême droite cherche-t-elle à cacher son programme à quelques jours des élections législatives ? Notamment ses… pic.twitter.com/XkPQAHYubJ— François Ruffin (@Francois_Ruffin) June 18, 2024
Confirmado nas intenções da extrema-direita é a privatização da rádio e televisão públicas, conforme Bardella esclareceu na France3 no domingo. Uma venda também ela para "poupar dinheiro". Chenu acrescentava na France2 que se tratava de dar "um bocado de liberdade" a estes órgãos de comunicação social que ele considera terem muitos programas "alinhados à esquerda ou à extrema-esquerda".