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Ex-dirigente das secretas diz que assaltou sede de partido de esquerda

O ex-diretor do SIED Silva Carvalho revela em livro que participou num assalto à sede do PSR em 1994 para retirar “fichas de inscrição de militantes”. Louçã classifica a operação de “ilegal e burlesca”, por tentar aceder a dados que já eram públicos.
Ação de rua do PSR em frente à sede do SIS, em 1993, contra a vigilância dos serviços secretos aos partidos de esquerda e movimentos sociais.

A edição desta quinta-feira da revista Sábado cita partes do livro que o ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa vai lançar este mês. Entre as memórias do espião Jorge Silva Carvalho está o relato de um assalto numa madrugada de 1994 à sede do PSR, com o objetivo de “retirar as fichas de militantes”. Segundo Silva Carvalho, o material retirado foi fotocopiado pelo SIS e devolvido na mesma madrugada.

Reagindo ao relato do ex-espião sobre o assalto ao partido do qual era dirigente, Francisco Louçã afirmou ao esquerda.net que “é absolutamente plausível que os serviços secretos fizessem operações ilegais, incluindo assaltos a sedes partidárias”. No caso concreto do PSR, Louçã diz que se tratou de uma “operação ridícula”, uma vez que as informações supostamente recolhidas pelos espiões do SIS eram de acesso público nos tribunais portugueses, onde são depositadas as listas de candidatos em cada eleição, que obrigatoriamente contêm todos os dados de identificação pessoal.  

Para Francisco Louçã, é “interessante e revelador” que um antigo espião venha agora assumir que existiram operações ilegais de vigilância a partidos de esquerda, como a deste assalto “burlesco”, entre outras declarações que insere no contexto das “guerras de alecrim e manjerona” no seio dos serviços de informações portugueses.

Em 1994, o ministro da Administração Interna do governo Cavaco Silva era Dias Loureiro e a vigilância do SIS fazia-se sentir sobre os partidos da esquerda, associações estudantis e sindicatos. Silva Carvalho justifica o assalto à sede do PSR por considerar este partido “simpatizante da ETA”, uma vez que, segundo o ex-espião, “os seus membros participariam em pequenas manifestações favoráveis à organização terrorista, em frente à embaixada de Espanha”. Silva Carvalho referia-se às iniciativas de solidariedade com o basco Telletxea Maya, que esteve em greve de fome na prisão em Portugal, após ter sido denunciado como um suposto membro da ETA por um amigo torturado pela polícia espanhola. Portugal recusou a extradição do cidadão basco, que contou com a solidariedade de figuras públicas como Manuel Alegre, Helena Roseta, Fernando Rosas, Urbano Tavares Rodrigues, Carvalho da Silva, Luís Francisco Rebelo ou Maria do Céu Guerra.

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