Corrupção

Ex-comissário europeu da Justiça suspeito de lavar dinheiro na lotaria

04 de dezembro 2024 - 15:23

O veterano político liberal belga Didier Reynders teve até sábado a pasta da Justiça na Comissão de von der Leyen. Com o fim da imunidade, foi alvo de buscas pela polícia na terça-feira.

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 Didier Reynders
Didier Reynders. Foto União Europeia ©.

O ex-comissário europeu da Justiça foi interrogado e viu algumas casas e escritórios alvos de buscas policiais esta terça-feira. A investigação da polícia belga já dura há algum tempo, mas teve de esperar até Didier Reynders, um veterano da política belga e da família europeia dos liberais, deixar de estar protegido pela imunidade do cargo europeu.

A polícia suspeita que ao longo dos últimos anos, ainda Reynders era ministro, terá usado a lotaria para lavar dinheiro de proveniência desconhecida. Segundo o portal Follow the Money, o político liberal - que foi responsável pela lotaria nos últimos anos enquanto ministro das Finanças, entre 2007 e 2011 - teria adquirido vouchers entre 1 e 100 euros que seriam transferidos para a sua conta no site da Lotaria Nacional e a partir desta conta, mas também com dinheiro vivo, comprava vários jogos, transferindo depois os ganhos para a sua conta bancária.

“Se há dinheiro, a pergunta seguinte é de onde é que ele veio”, disse uma fonte judicial, e serão essas as principais questões dos procuradores. O caso foi aberto com uma denúncia da própria Lotaria Nacional e da unidade de investigação financeira.

Segundo o Follow the Money, os jogos de azar continuam a ser uma das formas mais simples para lavar dinheiro, com o lucro a aumentar dependendo do tipo de jogo que se escolha. Por exemplo, jogos como o Euromilhões dão os maiores jackpots mas também as menores probabilidades de a aposta ser premiada. Aqui, são as raspadinhas as preferidas para o objetivo de branquear capitais, com a probabilidade média de retorno do dinheiro apostado a chegar aos 78% no caso das raspadinhas belgas de 10 euros do jogo “Win for Life”.

Ainda de acordo com as mesmas fontes judiciais, Reynders terá iniciado o esquema de lavagem de dinheiro quando ainda era ministro e não parou quando assumiu o cargo de comissário de Justiça. Ao longo da sua carreira foi alvo de várias acusações de corrupção, entre elas a de um agente dos serviços secretos belgas, mas as investigações nunca produziram resultados, acabando por ganhar a alcunha de “Teflon Didier”. Enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros viu a oposição pedir a sua demissão em 2017 por ter mentido ao parlamento quando disse que não tinha tido conhecimento da votação da ONU para a entrada da Arábia Saudita na Comissão de Direitos das Mulheres. A Bélgica votou a favor dessa entrada, numa decisão que o então primeiro-ministro Charles Michel viria a qualificar de lamentável.