Está aqui

Evo Morales alerta para golpe de estado, OEA recomenda segunda volta

O atribulado processo de contagem dos votos das eleições na Bolívia ainda não acabou, mas já incendiou o clima político no país.
Evo Morales
Evo Morales. Foto publicada no Twitter do presidente boliviano

Três dias após mais de seis milhões de bolivianos terem ido às urnas, o resultado final continua por apurar. Com 97,33% das atas contadas, o partido de Evo Morales lidera com 46,22%, enquanto o de Carlos Mesa regista 37,19%. Esta diferença de nove pontos percentuais fica aquém dos dez necessários para dispensar uma segunda volta. As atas por apurar pertencem aos estados de Chuquisaca — onde Mesa vence com 51.9% face aos 34% de Morales e falta contar cerca de 100 mil votos — e de Potosí — onde Morales vence com 47% face aos 35% de Mesa e há cerca de 60 mil votos por contar.
 
A ausência de atualização dos resultados preliminares nos dias seguintes à eleição deu lugar a protestos do candidato da oposição com acusações de fraude eleitoral, seguidas de tumultos e ataques às instalações das comissões eleitorais. Esta quarta-feira, o presidente e candidato Evo Morales fez uma conferência de imprensa para se congratular pela vitória do seu partido nas eleições gerais e denunciar “que está em marcha um golpe de estado”, apontando o dedo à “direita, com apoio internacional”, a quem acusa de semear o ódio e o desprezo pelo voto dos setores populares por "racismo".

“Quero que o povo boliviano saiba que até agora, humildemente, aguentámos, suportámos para evitar a violência. Não entrámos em confrontação e nunca iremos entrar em confrontação. Mas quero dizer ao povo boliviano: primeiro, estado de emergência e mobilização pacífica e constitucional”, afirmou Evo Morales. Apesar de os media internacionais terem de imediato citado o presidente boliviano como tendo declarado o estado de emergência, na verdade essa figura não existe na lei constitucional do país.

A tensão política provocada pela forma como as contagens de votos foram anunciadas subiu de tom ao longo dos últimos dias e provocou baixas no próprio organismo que superintende o processo. No entanto, todos rejeitam as acusações de fraude, incluindo a Organização de Estados Americanos, que observou a campanha e a votação e a quem o governo boliviano convidou agora a fazer uma auditoria a todo o processo.

OEA recomenda segunda volta, mesmo que Morales vença à primeira

No relatório preliminar da sua missão eleitoral na Bolívia, a OEA lança as maiores críticas à etapa pós-eleitoral. Ao final da tarde de domingo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou os primeiros dados do sistema TREP (Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares), que davam uma vantagem de 7.87% a Morales face a Carlos Mesa, com 83.85% das atas eleitorais verificadas. Mas essa foi a última vez que o Tribunal divulgou dados nesse dia, “apesar de o sistema ter capacidade para continuar com o processamento das atas”, aponta a OEA.

A primeira justificação da presidente do TSE junto da OEA para a suspensão da transmissão dos resultados do TREP, ainda na noite de domingo, foi que a contagem oficial dos votos já tinha começado, pelo que anunciar mais resultados iria causar confusão. Para além disso, a meta inicial para o TREP era de 80% das atas, terá acrescentado María Eugenia Choque. No entanto, na segunda-feira alguns membros do TSE admitiram junto da OEA alguns problemas técnicos no sistema.

Sem anúncio de novos resultados - da contagem oficial ou preliminar - durante um dia, a oposição começou a mobilizar os seus apoiantes com base na desconfiança em todo o processo e tomando como alvo os tribunais dos várias localidades, o que obrigou a suspender as contagens, atrasando ainda mais o processo. Em Potosí, Pando e Tarija, as sedes dos serviços foram totalmente incendiadas e os observadores evacuados, não regressando depois para o reinício da contagem.

Ao final da tarde de segunda-feira, foi reativada a contagem TREP com novo anúncio que ampliava a vantagem de Morales sobre Mesa para 9.36% com 94.7% das atas verificadas. A maior proximidade da vitória de Evo Morales à primeira volta (precisa de 10 pontos percentuais de diferença face ao segundo candidato mais votado) inflamou ainda mais os ânimos da oposição, com Carlos Mesa a afirmar que não reconhecerá o resultado da eleição que for anunciado.

Nas suas recomendações, e com base no resultado da contagem que dava Evo Morales ainda a meio ponto de distância da reeleição à primeira volta, a OEA recomendou que se organize uma segunda volta da eleição, mesmo que seja ultrapassada essa diferença de 10 pontos, em nome da credibilidade do processo eleitoral.

Termos relacionados Bolívia, Internacional
(...)