Segundo um estudo citado pela revista Visão, da autoria do economista francês Gabriel Zucman, a riqueza desviada para offshores atinge valores históricos, ascendendo a 8,6 biliões de dólares, e conduz a cada vez maiores desigualdades sociais.
Zucman assinala que Portugal ocupa o primeiro lugar do pódio a nível europeu no que concerne à evasão fiscal. Quase 40% da riqueza do país foi desviada para paraísos fiscais. A Grécia ocupa o segundo lugar, com 25,8% do PIB, Segue-se a Irlanda, com 19,5%, e a França 18,1%. Já Alemanha e Reino Unido registam 15,5% e 17,1%, respetivamente.
O economista destaca que “quando se olha para a categoria dos 0,01% dos mais ricos do planeta, com uma fortuna superior a 50 milhões de dólares, há uma probabilidade próxima de 70% de terem uma conta num paraíso fiscal”.
“E só estou a falar de dinheiro não declarado”, esclarece. Já no caso de fortunas de 10 milhões de dólares a percentagem desce para 20% e, para uma fortuna de 2 milhões, para 1%.
Para explicar esta realidade, o especialista de referência em evasão fiscal avança duas possibilidades: “Primeira possibilidade: a riqueza extrema afeta a moralidade. Muito dinheiro corrompe o espírito. Segunda possibilidade: são estas pessoas que não têm um respeito tão grande pelas leis, e nomeadamente pelas fiscais, que se tornam as mais ricas”.
“Não sei qual das duas será a causa. É um debate central das ciências sociais ao qual não sei responder. Mas os números mostram que há um fenómeno muito forte”, vinca Zucman.
Se é certo que “é mais fácil pagar menos impostos quando se é muito rico”, também é um facto que “isso cimenta as desigualdades”, alerta Zucman, explicando que as pessoas que são muito ricas tornam-se ainda mais ricas e “investem as suas riquezas com taxas de rendimento elevadas e pagam pouco ou nada de impostos desses rendimentos”.
O economista afirma que metade da riqueza em offshores está na Europa (27% na Suíça e 19,8% noutras regiões europeias, como o Luxemburgo, a Ilha de Man, Bélgica, Áustria e Jersey ou mesmo Inglaterra).