Vieram de vários pontos do país para assinalar com o protesto o Dia Nacional do Estudante, esta quinta-feira, com um desfile do Rossio até à Assembleia da República. Milhares de estudantes reclamaram o fim das propinas e das taxas e emolumentos que se multiplicam nas faculdades em troca dos serviços mais básicos e retiram ainda mais meios financeiros a quem ali estuda.
A manifestação contou com forte presença de estudantes deslocados, que além das despesas acrescidas por essa condição, têm enfrentado a subida do preço no mercado de arrendamento de casas e quartos e a escassez de lugares na oferta pública de residências estudantis. Mas o desfile ficou também marcado pela presença de inúmeros cravos vermelhos, cartazes e palavras de ordem em defesa dos valores conquistados com a Revolução de 25 de Abril.
Em declarações à CNN, Margarida, estudante em Lisboa e deslocada de Leiria, reconheceu a sua "sorte por estar num quarto com um preço mais ou menos acessível", lembrando os "muitos colegas que fazem grandes sacrifícios para encontrar um sítio para ficar". Por outro lado, sublinhou que agora "até temos de pagar para mudar de cadeira, ou seja, não nos dão a liberdade de escolhermos o que queremos", além das propinas terem passado a ser "cobradas com juros quando estão em atraso".
Outra estudante deslocada é Beatriz, que contou à RTP que "a cada ano que passa a corda está a esticar e está quase a rebentar", com muitos estudantes a passarem meses à espera de lugar numa residência pública, "nalguns casos desde o início do ano letivo". E entretanto "as despesas não param de aumentar, as taxas e emolumentos das faculdades também não acabam, mais as propinas", o que contribui para que "muita gente não tenha possibilidade de vir para cá".
"Mesmo aqui na faculdade, quantos colegas não foram ficando para trás ao longo da licenciatura?", questiona-se esta estudante, afirmando esperar que no futuro "haja mais financiamento para o Ensino Superior e que se cumpra a Constituição".
"Não podemos dizer aos jovens que eles são o futuro e depois roubar-lhes o futuro aos bocados
A deputada bloquista Joana Mortágua também marcou presença na manifestação junto ao Parlamento, lembrando que "estamos sempre com os estudantes nestes dias de luta".
"Sabemos que o acesso à habitação é um obstáculo objetivo à participação dos estudantes no Ensino Superior, o abandono escolar é um risco permanente para os estudantes que não conseguem arrendar uma casa quando estão deslocados. É um fator de empobrecimento dos estudantes, que depois de pagarem um quarto sobra pouco para pagar os livros e a comida", prosseguiu Joana Mortágua em declarações aos jornalistas.
A deputada do Bloco garantiu que o partido continuará a lutar pela "propina zero", pois "não deixaremos de considerar que o Ensino Superior é uma condição de democracia mas também de desenvolvimento do país". E por isso "tem de corresponder a um serviço público forte e com universalidade de acesso", numa altura em que "cada vez mais as condições económicas influenciam a capacidade de um estudante estar na faculdade".
"Não podemos dizer aos jovens que eles são o futuro e depois roubar-lhes o futuro aos bocados: um bocado na renda da casa, outro bocado no salário que não chega, outro nos transportes, no que não fazemos contra as alterações climáticas e ir tirando-lhes a esperança num futuro melhor. Temos a obrigação de trazer a esperança de que lutaremos por um Ensino Superior gratuito e de qualidade", concluiu Joana Mortágua.