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Estado paga 100€ a laboratórios privados por cada teste do Coronavírus

Laboratórios privados convencionados e centros de rastreio também estão a fazer testes a quem não esteja referenciado mas queira pagar do seu bolso até 150 euros.
teste  Covid
Foto Tom Wolf/Flickr

O valor pago pelo Estado aos laboratórios foi confirmado esta terça-feira ao jornal "Público" por responsáveis de dois laboratórios a trabalhar para as administrações regionais de saúde.

A abertura em todo o país destes centros de rastreio tem resultado, na sua maioria, de parcerias entre laboratórios privados, câmaras municipais e autoridades regionais de saúde. Para estes centros são encaminhados os doentes com suspeita de infeção do Covid-19, ou pela Linha SNS24 ou pelos centros de saúde, após validação de uma outra linha de apoio aos médicos, para aí realizarem de forma gratuita os testes. 

Questionada sobre o valor pago aos laboratórios por teste pelo Estado, a Administração Regional de Saúde do Norte não esclareceu quanto pagava, dizendo apenas que era o “valor definido pela convenção” sublinhando que o importante é diagnosticar de forma “precoce” de modo a “travar cadeias de transmissão”. Atualmente a  ARS-Norte coordena três destes centros de rastreio (um no Porto, outro em Gaia e um em Santa Maria da Feira), cuja abertura e localização tem sido determinada por “critérios epidemiológicos”, ou seja em localidades onde existe um maior número de casos ou uma maior urgência em testar. Recorre a laboratórios “certificados” pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. No caso da ARS-Lisboa e Vale do Tejo, coordena atualmente duas unidades de rastreio (uma no Lumiar e de outra no Parque das Nações) e anunciou que até ao final desta semana deverá estar fechada a decisão sobre o local onde serão instalados “mais vinte centros”.

O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, esclareceu na segunda-feira de manhã que havia capacidade para realizar 4.000 testes por dia: sendo 2.500 no Serviço Nacional de Saúde e 1.500 no privado, acrescentando que “não há racionamento nos testes, há racionalização nos testes”.  O primeiro-ministro António Costa, por sua vez, ao final do dia garantia que o país tinha capacidade para realizar 30 mil testes por dia: “Temos neste momento condições para fazer dez mil testes no sector público e 20 mil no sector privado. Estão encomendados 280 mil testes rápidos. Esta semana, chegarão 80 mil”.

Contudo, de acordo com os dados dos boletins diários da Direcção-Geral da Saúde, os testes realizados ficam muito aquém da anunciada capacidade. Inclusivamente, o número de pessoas testadas tem diminuído. A título de exemplo, no domingo foram testadas 1895 pessoas, menos 33 do que no sábado e menos 227 que na sexta-feira.

Mas nem todos os testes têm sido realizados apenas a doentes encaminhados pelo Serviço Nacional de Saúde. Grande parte destas análises está a ser feita a quem está disponível para pagar do seu próprio bolso 100€ a 150€ para fazer o teste. É o caso do centro de rastreio do Porto, que é uma parceria entre a ARS-Norte e a multinacional Unilabs, cujo CEO em Portugal é Luís Menezes, ex-deputado do PSD e filho do antigo líder social-democrata, e a Câmara Municipal do Porto, que garantiu a logística.

Qualquer pessoa, sem indicação do SNS, pode através do site do laboratório fazer a marcação para ir ao centro de rastreio do Porto, pagando, para isso, 100 euros. De acordo com fonte oficial da Unilabs, citada pelo "Público", todos os centros coordenados pela Unilabs – Porto, Lisboa, Gaia, Braga e Viseu, estando a preparar a abertura de mais duas unidades – “estão abertos a públicos e privados” garantindo, no entanto, que atendem “preferencialmente” quem é referenciado pelo SNS. “Quando temos capacidade para fazer mais testes além desses, fazemos. Mas a maioria é pública.”

No caso do laboratório responsável pelo centro de rastreio do Lumiar em Lisboa, a realidade apresentada é bem diferente. De acordo com Germano de Sousa, antigo bastonário da Ordem dos Médicos e presidente do conselho de administração desse laboratório, em declarações também ao "Público", entre domingo e segunda tinham sido realizados pela sua empresa em todo o país perto de 500 testes ao Covid-19, dos quais pelo menos 300 foram pagos pelos próprios utentes, isto é, mais de metade dos testes.

Germano de Sousa acredita que o número vai subir em flecha nos próximos dias, já que apenas nesta segunda-feira abriram duas unidades de rastreio na região de Lisboa, uma na Escola Básica Quinta dos Frades, no Lumiar, e outra em Cascais.

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