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Escolas começaram semana com a mesma intensidade nas lutas

Esta segunda-feira, a greve rotativa por distritos foi em Castelo Branco e “superou os 90%”. Sindicatos veem aqui uma resposta clara às propostas apresentadas pelo Ministério da Educação no final da semana passada. O Esquerda.net volta a fazer a ronda de greves, manifestações e outros protestos em vários pontos do país.
Professores de Castelo Branco em luta. Foto da Fenprof.

Castelo Branco não foi exceção e os níveis de adesão à greve rotativa por distritos convocada por oito sindicatos de professores continuaram a “superar os 90%”. O dia foi também de concentrações e manifestações em Castelo Branco, Fundão, Sertã e Covilhã. E nesta cidade, perante centenas de professores e os órgãos de comunicação social, Mário Nogueira, coordenador da Fenprof, considerou “muito importante” o facto da mobilização se manter elevada depois da última reunião negocial porque “podia acontecer que os colegas achassem que as propostas do Ministério eram tão positivas que já não havia razão para continuar a greve. A resposta está aqui.”

Também em várias escolas do distrito os professores se reuniram em forma de protesto. À porta da Escola Secundária Quinta das Palmeiras, na Covilhã, uma faixa resumia: “Quem ensina a ‘voar’ não pode rastejar”. E perto dela João Rodrigues, em declarações à Lusa, desmontava o argumento do Governo de que “não há dinheiro” para resolver os problemas dos professores contrapondo: “vemos a TAP e a banca a levarem milhões e milhões e depois dizem-nos que para os professores não há. Não pode ser”. A sua colega Liliana Dias ilustra com o seu caso de 19 anos de precariedade. Este ano dá aulas sem horário completo na cidade onde vive, mas no ano passado acumulava três horários em três concelhos diferentes na tentativa de somar horas de serviço. Diz que a conta do combustível chegou aos 600 euros por mês. A sua avaliação do governo é assim contundente: um “redondo zero”.

Segundo a RTP, a escola básica João Ruiz e a secundária Amato Lusitano, de Castelo Branco, não tiveram aulas e os alunos juntaram-se aos professores no protesto. Aí, José Gonçalves, do Sindicato dos Professores da Região Centro, salientou que “a razão principal” da mobilização é “lutar pela escola pública, pela sua qualidade”.

E na Sertã também, onde se cantou "Costa, escuta, a escola está em luta".

Também no resto do país a mobilização continua

No distrito de Viana do Castelo, em Caminha, esta segunda-feira, um grupo de professores aproveitou a deslocação do presidente da Assembleia da República a uma escola de Vila Praia de Âncora para se manifestar com cartazes improvisados onde se podia ler “Costa, queremos resposta”, “pelo respeito pela escola pública” ou “eu quero ser professor… mas preencho mais papéis que uma impressora”, dá conta a RTP.

No Bombarral, a "espera" foi ao ministro da Educação.  João Costa foi ao Agrupamento de Escolas de Fernão do Pó para uma reunião do Conselho Nacional da Educação e deparou-se com professores, pais e alunos que o vaiaram, mostra o Correio da Manhã.

Já em Famalicão, a Escola Básica Conde de Arnoso e a D. Maria II estiveram encerradas, indica a FamaTV.

Em Viseu, o Jornal do Centro, reporta uma nova greve no Agrupamento de Escolas Infante D. Henrique com uma centena de professores a manifestar-se à porta da sua sede e “nem o frio os afastou”. O professor Paulo França explica que um grupo de professores lançou a iniciativa de fazer greve aos dois primeiros tempos para “chamar a atenção para aquilo que são os problemas da educação” e contrariar o “grande desânimo” sentido pela classe, pois “nos últimos 20 anos são recorrentes os problemas, a degradação, o desespero, o aumento da carga burocrática que temos vindo a ser alvo e é reconhecida a desvalorização da profissão docente”.

Em Almada, revela a SIC, o protagonismo foi assumido pelos assistentes operacionais. Professores e coordenação da escola básica Marco Cabaço seguiram o apelo e o estabelecimento de ensino fechou esta manhã. Dizem que há falta de funcionários: são apenas seis para cerca de 200 alunos.

De Portimão chega a notícia de que os professores do Agrupamento Manuel Teixeira Gomes decidiram voltar a dar aulas ao mesmo tempo que asseguram que continuarão a lutar. Recorde-se que as escolas deste agrupamento estava desde 12 de dezembro sem aulas e a Escola Secundária desde 4 de janeiro. O professor David Graça expressou, aos microfones da CNN Portugal, agradecimento às famílias que “têm sido incansáveis quer na compreensão quer no apoio” e sublinhou que os professores estão “prontos para voltar à luta de outra forma”. Também os estudantes continuam ao seu lado. Verónica, a presidente da Associação de Estudantes desta secundária, diz que acredita que os professores vão conseguir fazer recuperar as aprendizagens e vinca: “acreditamos nesta luta até porque eles também estão a lutar para que os alunos tenham um ensino de melhor qualidade”.

Já o Mirante, este domingo, traz algumas das lutas do ensino na semana passada na região que cobre, destacando na segunda-feira um cordão humano no Agrupamento de Escolas do Forte da Casa e depois uma concentração em frente à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira a que se juntaram também professores do Agrupamento de Escolas Pedro Jacques Magalhães de Alverca do Ribatejo. No dia seguinte, houve greve e manifestação de professores e pessoal não docente do Agrupamento de Escolas da Castanheira do Ribatejo e também protestos na Escola Secundária Marquesa de Alorna, em Almeirim.

Professores não esquecem: Chega é contra a escola pública

No distrito do Porto, em frente à Câmara Municipal de Gaia, a concentração foi convocada pelo STOP. Uma das professoras presentes insistiu também na ideia de que o centro da questão era a defesa da escola pública. Para além disso, pôs em causa, em declarações à SIC, o modelo de avaliação “completamente desadequado e incorreto” feito “numa perspetiva financeira” para que muitos não cheguem ao topo da carreira. À CNN Portugal, nessa mesma ação de luta, uma auxiliar de ação educativa explicava que protestava pela sobrecarga de trabalho, “em termos de limpezas cai tudo sobre nós”, e por outras condições de trabalho como as deslocações: “ao irmos para outras escolas toda a despesa que isso acarreta sai tudo do nosso bolso”.

E André Pestana, o dirigente do STOP, à Lusa, desafiou o presidente da República a tomar posição “clara” sobre “os ataques que têm degradado a escola pública e o atentado ao direito à greve”. Sobre as negociações com o Governo, acrescenta que o ministro “em vez de tentar ceder em aspetos essenciais para acalmar esta luta, em vez de fazer um aumento mínimo salarial – 120 euros foi a nossa proposta – está a fazer um ataque ao direito à greve com serviços mínimos a partir de 1 de fevereiro”.

Este sindicato tinha-se já insurgido em comunicado, também de acordo com a Lusa, contra a tentativa de colagem da extrema-direita ao seu protesto: “esta grande luta, greve, de todos os profissionais da educação é uma mobilização totalmente apartidária e não aceitamos este tipo de oportunismo e aproveitamento vergonhoso”.

Isto depois de, na passada quinta-feira no debate com o ministro da Educação, André Ventura ter usado repetidamente a sigla do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação. O sindicato avalia que se trata de uma “tentativa torpe de obter ganhos políticos” e diz não esquecer “que no programa original deste partido se defendia a extinção do Ministério da Educação e a privatização total do sistema de ensino português. Não tenhamos ilusões: o facto de estas propostas terem sido alteradas é mais uma prova de oportunismo eleitoral e não uma alteração de pensamento”, remata.

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