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Equador: movimento indígena desafia estado de exceção

O Presidente Lasso pretendeu travar os protestos com esta medida mas a Conaie apela à continuação da “greve indefinida”, a uma assembleia ampla dos movimentos sociais e a uma mobilização em Quito sem violência ou vandalismo.
Manifestantes em Quito. Foto de Jose Jacome/EPA/Lusa.
Manifestantes em Quito. Foto de Jose Jacome/EPA/Lusa.

Passada uma semana de protestos contra os aumentos de preços, a austeridade e a flexibilização das leis laborais, e depois de ter mandado deter o líder indígena Leónidas Iza que entretanto foi libertado, Guillermo Lasso, o presidente do Equador, tinha jogado a cartada da aplicação do estado de exceção nas zonas em que este era mais intenso, Pichincha, Imbabura e Cotopaxi. Ao mesmo tempo, anunciara que também o sistema de saúde passaria a estar em “estado de emergência” devido à falta de medicamentos, um ligeiro aumento no apoio à pobreza e a duplicação do investimento na educação intercultural para as comunidades indígenas.

Segundo a Conaie, a maior organização indígena do país e a grande força por detrás da mobilização, este plano é irrisório. As exigências centrais do movimento popular não foram contempladas e, assim, a greve geral com prazo indefinido manter-se-á “até que o governo nacional estenda as respostas às exigências do movimento indígena”. Apela-se agora uma marcha camponesa até à capital e continuarão ainda os bloqueios de estradas que se verificavam este sábado em pelo menos em 14 das 24 províncias do país.

Leónidas Iza desafia Lasso a estar menos focado em seguir as políticas do FMI e a dedicar-se a resolver os problemas dos cidadãos. Os movimentos sociais lançaram um conjunto de dez exigências, onde se encontram questões como o preço dos combustíveis (entre maio de 2020 e outubro de 2021 o diesel aumentou 90% e a gasolina 46%, desde esta altura os preços estão congelados devido à mobilização dos indígenas mas estes exigem uma descida), o fim dos projetos extrativistas e de combustíveis fósseis e apoios aos pequenos camponeses.

Para além disto, Iza comunicou que será convocada uma “assembleia popular ampliada” que juntará os diferentes movimentos sociais do país. Sobre a natureza dos protestos fez questão de apelar a quem deles faz parte para as suas ações não possam ser confundidas com atos de violência ou vandalismo que ajudassem o governo a criminalizar os processos reivindicativos: “não permitamos que a nossa luta legítima seja afetada pela violência e o vandalismo. Temos uma agenda clara que procura resultados concretos, atuemos em unidade”.

Mas alguém do outro lado da barricada não terá respeitado o apelo. Este sábado, em Latacunga, o carro do dirigente da Conaie foi atingido por disparos que atingiram a janela da frente do veículo. O advogado do movimento, Lenin Sarzosa, informou que será apresentada queixa.

A Conaie denuncia ainda que a sede da Casa da Cultura em Quito foi encerrada e alvo de uma rusga pela polícia numa ação intimidatória, na sequência de uma chamada anónima que terá acusado a instituição de receber “30 pessoas de nacionalidade venezuelana e equatoriana” que levariam “armas e munições no contexto da greve nacional”, explica o seu responsável.

Também acusa os militares de terem disparado com os cidadãos de San San Sebastián del Coca em Orellana “para que os camiões entrem nas petrolíferas”, sublinhando que “a resposta do governo é a repressão”.

 

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