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Embaixador de Israel acusa Tiago Rodrigues de estar refém do Hamas

Em reação à adesão do diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II ao boicote cultural a Israel, o embaixador acusa-o de ter aderido a “clichés” e, em tom provocatório, deseja-lhe sucesso nos países vizinhos.
Embaixador de Israel acusa Tiago Rodrigues de estar refém do Hamas
Tiago Rodrigues anunciou o cancelamento da sua participação num festival em Jerusalém, afirmando que irá aderir ao boicote cultural a Israel.

Raphael Gamzou, embaixador de Israel em Portugal, acusou o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II de ter “optado conscientemente tornar-se refém de uma organização terrorista como o Hamas”. Esta acusação surge na sequência do cancelamento da participação de Tiago Rodrigues num festival em Jerusalém. 

“Eu, Raphael Gamzou, embaixador de Israel em Portugal, venho expressar a minha perplexidade ao tomar conhecimento de um artista que prima pelo talento e pela originalidade, como é o caso de Tiago Rodrigues, ter optado conscientemente tornar-se refém de uma organização terrorista como o Hamas. Uma organização extremista, cínica e cruel, até para o seu próprio povo”, refere o diplomata num comunicado enviado à Lusa.

Tiago Rodrigues, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, anunciou o cancelamento da sua participação num festival em Jerusalém, afirmando publicamente que irá aderir ao boicote cultural a Israel. 

“Decidi não apresentar o meu espetáculo no Israel Festival, em junho, porque acredito que é a única forma de garantir que o meu trabalho artístico não servirá para justificar ou apoiar um governo que comete deliberadas violações dos direitos humanos e está atualmente a atacar violentamente o povo palestiniano”, refere o autor, ator e encenador, num comunicado divulgado na quinta-feira.

Raphael Gamzou refere que “esperava, de um artista como Tiago Rodrigues, que fosse capaz de pensar ‘out of the box’ [fora da caixa, em português] resistindo ao facilitismo dos clichés mais utilizados para caracterizar a realidade complexa com a qual a sociedade israelita é confrontada”.

O diplomata continua com as acusações, afirmando que “esperava, de um tal intelectual, que fosse capaz de pesquisar, estudar minuciosa e apuradamente aquela realidade sem fugir para a zona de conforto que é o bom-tom do meramente superficial”.

“Por isso e à luz da decisão que tomou em boicotar aquela que é a única democracia do Médio Oriente, a Tiago Rodrigues desejo os maiores sucessos nos vizinhos de Israel: no Irão, na Gaza do Hamas, no Líbano do Hizbollah, na Síria de Assad e tantos outros… todos eles campeões no que aos Direitos Humanos diz respeito”, lê-se no comunicado.

Na sua conta pessoal no Facebook, o autor afirma que, embora se oponha “de forma veemente à opressão do povo palestiniano pelo governo israelita”, tinha aceitado o convite para apresentar a peça “By Heart”, em junho, no Israel Festival, em Jerusalém, “promovido por uma organização sem fins lucrativos que se apresenta como um projeto artístico que promove uma sociedade plural e pacífica”.

Contudo, entretanto, e “através das comunicações oficiais do festival”, apercebeu-se de que a edição deste ano “marca o 70º aniversário da independência do Estado de Israel”.

“Achei que a minha participação seria passível de instrumentalização política, seria contrária aos meus desejos, serviria para celebrar uma efeméride, ainda por cima no contexto de um festival fortemente apoiado pelo governo israelita, sem que o festival tenha um discurso, que me parece fundamental que exista, crítico, explicitamente crítico, da atuação deste governo, sobretudo neste momento em que assistimos a um aumento assustador do número de vítimas entre os civis palestinianos nos ataques das forças armadas israelitas”, defendeu.

Tiago Rodrigues acredita que “não é possível um festival, que se assume como um festival que quer promover a pluralidade de vozes na democracia israelita, ficar silencioso perante aquilo que está a acontecer e que aconteceu esta semana”, concluiu ainda o diretor do Teatro D. Maria II.

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