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Em Faro, professores dizem que “não se vão deixar enxovalhar”

A Fenprof reivindica 95% de adesão à greve em Faro no âmbito da paralisação rotativa por distritos convocada por nove estruturas sindicais e seis mil pessoas a desfilar entre o Mercado Municipal de Faro e a Direção Regional de Educação, cumprindo um percurso de cerca de dois quilómetros em defesa dos direitos dos professores e da escola pública.
A acompanhar esse caminho, um caixão a reclamar “aposentação digna (em vida!)” lembrava uma realidade que neste mesmo dia tinha sido confirmada por um estudo do Conselho Nacional de Educação: os professores portugueses têm de trabalhar mais anos do que os seus colegas europeus para poder aspirar aceder ao topo da carreira. No mesmo comprimento de onda, professores mascarados de zombies reclamavam que era isso mesmo que a gigantesca carga de tarefas burocráticas a que estão sujeitos os fazia sentir.
Também as palavras de ordem e várias das declarações à imprensa dos manifestantes compunham o amplo leque de argumentos que levam os professores às ruas e que aquele estudo comprova. Gritava-se “nenhum jovem aguenta, precário até aos 50”, “Horários sobrecarregados, professores arrasados” e “Diretores a colocar, nem pensar, nem pensar”.
Marco Gonçalves, professor em Faro, dizia à Lusa que tem a carreira congelada há anos: “com os anos de serviço que tenho, devia estar no 8.º ou 9.º escalão de 10, mas neste momento estou no 4.º escalão. A questão nem é chegar ao topo, o problema é que a maioria vai ficar a meio da carreira, o que significa uma aposentação muito inferior ao esperado”. Está convencido que “desta vez, os professores não vão perder a luta. Os professores vão ganhar e não se vão deixar enxovalhar”.
O seu colega Ricardo Cunha veio do norte e dá aulas em Silves. Lecionou em 17 escolas em 13 anos, em busca da vinculação. Uma das razões que avança é que no Algarve “há alunos há imenso tempo sem professores, sem aulas a várias disciplinas”. Outra são as “rendas altíssimas” na região e o facto dos professores serem “despejados em junho para que esse alojamento seja aproveitado para o turismo”.
Os sindicalistas pensam que a mobilização mostra que o ministro tem de respeitar os professores. Quem o diz é o secretário-geral adjunto da Fenprof, José Feliciano Costa, também presente no protesto e que lembrou que a última proposta do ministro da Educação “não vai ao encontro de nada” do que os docentes estão a dizer nas suas mobilizações.
Este foi ainda dia dos nove sindicatos da frente sindical de professores terem uma reunião técnica com o Ministério da Educação e de serem recebidos em Belém. Com Marcelo a apressar-se a vir dizer que não os recebia e os remetia para um assessor para não se intrometer no processo negocial. Ainda assim, o líder da Fenprof, Mário Nogueira, declarou no final que a reunião foi “importante”, que compreendia que o presidente da República não queira dar a impressão de apoiar uma parte e manifestou esperança que este “exerça alguma influência”.
No resto do país, a luta continua
De acordo com a reportagem da RTP, o Agrupamento de Escolas de Vialonga foi um dos pontos da luta deste dia. Cerca de uma centena de professores e funcionários manifestaram-se primeiro e fizeram um plenário depois.
Outro dos canais televisivos, a CNN Portugal, assinalava protestos em Mirandela, à porta da Secundária, onde um dos presentes realçava que o ministro propunha “mais do mesmo”.
A FamaTV mostra a Escola Básica D. Maria II, na freguesia de Gavião, em Famalicão, que esta quinta-feira foi encerrada pela quarta vez nesta onda de protesto. O mesmo aconteceu com outras duas escolas do 1º ciclo do seu agrupamento: a de Lagarinhos e de Carvalho.
Também os professores do Agrupamento de Escolas de Penalva do Castelo são repetentes na mobilização pela educação. O Jornal do Centro noticia que fizeram o segundo protesto no espaço de três semanas e que vão voltar a fazê-lo a 7 e 11 de fevereiro. A docente Teresa Barras diz que o fazem pelos “grandes desagrados” relacionados “com as questões do recrutamento, com a forma dúbia do recrutamento que pode ter a ver com os perfis, com as quotas para o acesso aos escalões, com o facto de os nossos vencimentos não serem de acordo com aquilo que temos”.
Alguns outros jornais locais noticiam mobilizações acontecidas na quarta-feira. É o caso do jornal A Verdade que titula: “professores de Felgueiras continuam na luta por uma escola melhor” e informa que os professores dos Agrupamentos de Escolas de Paredes se juntaram à porta da Câmara Municipal. E O Mirante dá conta de que os professores de todos os graus de ensino do Agrupamento de Escolas da Chamusca se manifestaram junto ao portão principal da escola sede. Numa nota enviada a este órgão de comunicação social, sublinham casos de docentes que trabalham há cerca de duas décadas sem estarem vinculados.
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