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Dragagens em Setúbal avançam em novembro, Bloco e SOS Sado estão contra

Uma comissão da Assembleia Municipal de Setúbal reuniu com a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra que informou que as dragagens no Sado vão começar no início de novembro. O Bloco local manifesta-se contra. A SOS Sado também criticando a “manipulação, desinformação, obscurantismo” da APSS.
Manifestação contra as dragagens. Outubro de 2018.
Manifestação contra as dragagens. Outubro de 2018. Foto de SOS Sado. Facebook.

Será já no início do próximo mês de novembro que as dragagens do Sado se vão iniciar. A presidente da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), Lídia Sequeira, comunicou a uma Comissão de trabalho da Assembleia Municipal de Setúbal, encarregue de acompanhar este processo, que os trabalhos preparatórios estão “praticamente concluídos”.

A mesma entidade informou que houve algum atraso no início dos trabalhos uma vez que o navio estaria a concluir outra obra mas que já estão “praticamente concluídos” preparativos como a montagem do estaleiro, a eliminação do Bico da Parvoíce e o enrocamento.

A APSS justifica a necessidade da obra devido à “melhoria das acessibilidades marítimas, a par de outros projectos em curso como a melhoria dos acessos ferroviários e o desenvolvimento da Janela Única Logística” que “permitirão promover a intermodalidade e aumentar as mercadorias transportadas por comboio no Porto de Setúbal”.

Do lado dos deputados municipais, houve quem tivesse ficado satisfeito com a garantia de que a segunda fase das dragagens não avança, limitando-se desta forma as dragagens a 3,5 milhões de metros cúbicos de areias, e com a declaração de que a APSS é “sensível” ao pedido dos pescadores para que as areias não sejam depositadas na Restinga, a zona de “maternidade de peixes”.

Posição mais crítica tem o Bloco. Vítor Rosa, deputado municipal do partido, reiterou ao jornal Público que o Bloco rejeita as dragagens e que “não ficou mais descansado tendo em conta que a APSS continua a dizer que dragagens são para seguir em frente e que é um projecto do Governo e não apenas da ministra do Mar.” Este deputado municipal critica ainda que “não está a ser auscultado todo o sentimento da população de Setúbal”.

SOS Sado contra argumentos vagos, contradições e promessas “fantasiosas”

Também a Associação SOS Sado não ficou satisfeita. Num comunicado publicado nas redes sociais, o movimento começa por sublinhar que a APSS “terá prestado aos poucos deputados presentes alguns esclarecimentos que tem negado à população”, o que julgar ser uma “manobra de charme político que parece ter encontrado acolhimento caloroso junto de alguns partidos sequiosos de demonstrar uma pretensa atenção e preocupação com o tema, e ansiosos por terem quaisquer argumentos com que sossegar os ânimos dos concidadãos que exigem respostas, até nas suas próprias fileiras”.

A SOS Sado acrescenta que “a nova versão da litania de Lídia Sequeira envolve intermodalidade e transporte ferroviário” mas que os argumentos são apresentados “nunca concretizando nem pormenorizando um que seja, e misturando os ingredientes do Estudo de Impacte Ambiental conforme as conveniências, criando contradições que deixam o mais incauto observador estarrecido”.

Como exemplo das contradições está a “promessa” de não avançar para a segunda fase do projeto. Os defensores do rio dizem que há uma “evidente contradição entre esta promessa e a perspectiva apresentada recentemente pela presidente da APSS no fórum “De Setúbal para o Mundo”, onde referiu que o aumento progressivo e continuado da profundidade do porto será necessário para garantir a recepção de navios cada vez maiores” e que nas previsões de criação de emprego apresentadas à própria Comissão da Assembleia Municipal mantêm-se ambas as fases da obra. Assim, pensam, ou “a agora malfadada Fase B não acrescentaria qualquer benefício económico ao Porto de Setúbal” ou os empregos gerados seria uma “promessa” que faria “parte de uma narrativa fantasiosa para apaziguar consciências, disponível para constante mutação conforme o público-alvo”.

O movimento também contesta a promessa de que não vai haver depósito de dragado na restinga “sem ter o acordo dos pescadores”. Salienta “a relação prepotente e desigual entre a administração portuária e os pescadores” que “estão dependentes da boa-vontade da primeira”. Por isso, “este “acordo”, a existir, será sempre feito com uma arma figurativa apontada à cabeça das associações de pesca”. A SOS Sado contrapõe que “a sobrevivência da restinga de Tróia, da maternidade de espécies que alberga, da biodiversidade e da economia que dela depende não podem nem devem estar reféns de “acordos”.”

Continuando a detalhar as contradições encontradas na posição da APSS, a SOS Sado diz que a garantia de que os dragados são todos de Classe 1 de contaminação “em todas as análises feitas” é uma “contradição total e absoluta com o próprio Estudo de Impacte Ambiental, onde as análises pelo IPMA revelam dragados de Classe 1, 2 e 3 nos diferentes pontos de controlo”, sendo assim “uma mentira de perna curta”.

Os ambientalistas consideram que a postura da administração portuária tem sido de “manipulação, desinformação, obscurantismo”, introduzindo “narrativas facilmente desmontáveis, mesmo com a escassa documentação publicamente disponibilizada”.

Para além das críticas à APSS, a SOS Sado também é crítica dos partidos que terão tido “um “bom acolhimento” das mentiras óbvias da administração do Porto de Setúbal”. O movimento considera que houve “manifestações subservientes de regozijo e satisfação dos partidos com mais assentos na Assembleia Municipal, que depois de uma campanha eleitoral onde tentaram atirar a “batata quente” para o colo de cada um, se contentam agora em ignorar o ruinoso historial de compromisso com a verdade e a transparência da APSS neste projecto”.

A SOS Sado saúda “aqueles que na esfera política ainda se esforçam por alertar para os riscos desta obra e denunciar as manobras de bastidores da APSS” salientando que “a luta continuará a fazer-se também nas bancadas políticas, para além dos tribunais e da voz da rua, juntando todos aqueles que, despojados de interesse próprio e movidos apenas pela cidadania activa e interessada, pela protecção do património natural público e pelo bem-estar das gerações actuais e futuras, gritam a plenos pulmões: o povo é solidário na defesa do Estuário. Sim ao Sado, Não às dragas!”

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