Donos do Correio da Manhã distribuem dividendos... e a seguir pedem ajuda ao Estado

21 de abril 2020 - 15:04

Enquanto CEO da Altri, Paulo Fernandes diz que vai distribuir 61,5 milhões em dividendos por esta ter “situação financeira muito forte”. Enquanto presidente da Cofina, empresa detida pelo mesmo grupo de acionistas, queixa-se da quebra de receitas e reclama mais dinheiro aos contribuintes.

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Paulo Fernandes, da Altri/Cofina em audiência com o Presidente da República. 20 de abril de 2020. Foto de José Sena Goulão/Lusa.
Paulo Fernandes, da Altri/Cofina em audiência com o Presidente da República. 20 de abril de 2020. Foto de José Sena Goulão/Lusa.

Paulo Fernandes é presidente do Conselho de Administração da Altri. É também presidente da Cofina. Até aqui nada de estranho, uma vez que a produtora de pasta de papel e o conglomerado de meios de comunicação social que detém, por exemplo, o Correio da Manhã, fazem parte do mesmo grupo económico.

Mas fala como se assim não fosse. À saída de uma audiência com Presidente da República, Paulo Fernandes separa os seus papéis de forma a que num momento esteja a defender a distribuição de dividendos de uma das empresas, em tempo de pandemia, e no seguinte a pedir um aumento de ajudas estatais para a outra.

Segundo o CEO da Altri, esta irá distribuir dividendos dada a sua “situação financeira muito forte”. Em comunicado datada de 13 de março, a Altri comunicou lucros de 100,8 milhões em 2019. Ainda assim uma descida de quase metade face a 2018. Serão distribuídos a 30 de abril, de acordo com a proposta do Conselho de Administração, 61,5 milhões de euros, trinta cêntimos por ação. Ou seja, 54% do lucro obtido. Paulo Fernandes diz que os lucros distribuídos este anos serão metade do ano passado, uma vez que “as condições obviamente exigem cautela”.

Segundo o presidente da Cofina, pele que Paulo Fernandes assumiu depois na mesma ocasião, o pacote de ajuda à comunicação social é “absolutamente insuficiente”. O grupo de comunicação social teve uma descida de receitas na ordem dos 50%, alega. Isto apesar de ter tido, o ano passado, um aumento de lucros de 7,5% acima do que registou em 2018.