Uma das propostas do Chega é expulsar os imigrantes ilegais de Portugal e impedi-los de regressar e tentar a legalização nos cinco anos seguintes. Mas um dos deputados agora eleitos para levar a proposta ao Parlamento já sofreu na pele o resultado dessa política, quando saiu de Portugal na década de 1970 e foi imigrante ilegal em França durante vários anos. Sem autorização de residência em França, José Dias Fernandes foi expulso daquele país, regressou ilegalmente e voltou a ser expulso, regressando outra vez em 1978, como o próprio recordou recentemente ao Lusojornal, refere o jornal Público.
Foi apenas graças ao governo socialista de François Mitterrand que José Dias Alves teve oportunidade de regularizar a sua situação em França. E na mesma entrevista confessa que nos anos seguintes se dedicou a ajudar "centenas" de imigrantes ilegais portugueses a conseguirem a autorização de residência.
"Só se faziam papéis em França a quem fosse empresário. Como eu decidia quem ia trabalhar como subempreiteiro, ajudei muito português a criar a sua empresa e a dar trabalho. Sei as dificuldades do imigrante comum", diz José Dias Alves, aparentemente indiferente às dificuldades do imigrante comum a quem o seu partido quer expulsar do país e impedir de regressar nos cinco anos seguintes.
O deputado bloquista Fabian Figueiredo reagiu nas redes sociais à eleição de um antigo imigrante ilegal pela extrema-direita portuguesa: "O Chega é a contradição na forma de partido e um caso extremo de falta de empatia. Mas sobretudo um perigo para os imigrantes cá dentro e para os emigrantes portugueses lá fora, expostos à xenofobia que a extrema-direita aliada de Ventura alimenta", afirmou.
Natural de Viana do Castelo, o empresário José Dias Fernandes preside à associação Fiel Amigo do Bacalhau. E este constou da ementa da "Festa do Fiel Emigrante" que organizou em agosto de 2022 na sua quinta no lugar das Neves, no seu concelho de nascimento. O Lusojornal conta que "participaram 376 compatriotas" vindos de vários países neste evento que "decorreu em grande pompa no pavilhão e jardins anexos com exposição de carros, motas e bicicletas do século passado, tratores quase centenários, grupo musical em palco, atuação do Rancho Folclórico de Vila Franca do Lima e diversos entretimentos".
E acrescenta que ao fim da tarde chegou à festa André Ventura, acompanhado de quatro deputados do Chega, alcançando "um acolhimento sem igual pelo incalculável número de fotógrafos com seus smartphones em mão". Na festa, Ventura afirmou que “vamos, como prometemos, ter em setembro ou outubro uma proposta de lei no Parlamento para que finalmente possamos ter uma legislação ágil, eficaz e rápida para que os emigrantes possam votar e não voltemos a ter os problemas que tivemos nas eleições deste ano”, que acabaram por ser repetidas. Mas essa promessa foi apenas mais uma das que ficou por cumprir por parte da extrema-direita.