Está aqui

Depois de 70 dias de luta, trabalhadoras da Vertbaudet conquistaram aumento salarial

A empresa de artigos de puericultura francesa queria impor “aumentos zero”. As trabalhadoras fizeram greve pela primeira vez na vida, aguentaram intimidações e uma carga policial. No final, os patrões cederam.
Trabalhadoras da Verbaudet de Marquette-lez-Lille festejam o resultado da sua luta. Foto: @L_insoumission/Twitter.
Trabalhadoras da Verbaudet de Marquette-lez-Lille festejam o resultado da sua luta. Foto: @L_insoumission/Twitter.

As trabalhadoras da marca de roupa de criança e outros artigos de puericultura Vertbaudet de Marquette-lez-Lille, no norte de França, conquistaram esta sexta-feira um aumento salarial depois dos dois meses e meio de greve consecutivos em que fizeram paralisaram o trabalho pela primeira vez nas suas vidas.

Direção da empresa e CGT entraram em acordo, segundo um comunicado da empresa, citado pelo Le Monde bem além do “aumento zero” acrescido dos bónus gerais decretados por Macron que tinha sido acordado pelas centrais sindicais FO e CFTC. Este ramo da empresa tem contratadas sobretudo mulheres que ganham na sua maioria o salário mínimo nacional. Serão agora aumentadas no mínimo em 90 euros líquidos mensais, 140 para as que estão contratadas pelo menos há 12 anos, e as grelhas salariais vão ser refeitas com a antiguidade a ser tida em conta. É isso que sublinha Allison Glorieux, a delegada sindical da CGT na empresa, que declarou que conseguiram “menos do que exigíamos mas finalmente a antiguidade vai ser valorizada e isso vai beneficiar todas as trabalhadoras” que até eram obrigadas à estagnação permanente.

E se a delegada sindical fala numa batalha vencida mas numa guerra ainda em curso, a nova secretária-geral da CGT é bem mais efusiva. Na sua conta de Twitter, Sophie Binet classifica o sucedido como uma “magnífica vitória das trabalhadoras” que se estende a cerca de 1.000 trabalhadores do grupo e salienta que conseguiram ainda a contratação de 30 trabalhadoras temporárias.

Várias trabalhadoras enfrentavam já processos disciplinares com vista ao despedimento que também foram travados pelo acordo.

Desde 20 de março que o processo de luta que se tornou emblemático se vinha desencadeando envolvendo até ao final 72 das 320 trabalhadoras da empresa. Um manifesto publicado no Le Monde juntou coletivos feministas, figuras da política e do mundo das artes e da cultura saudando a “luta exemplar” contra “uma gestão sexista”. E à esquerda vários dirigentes políticos marcaram presença nos piquetes de greve.

O processo foi conturbado. A empresa contratou 84 trabalhadores temporários para fazer face à greve, justificando oficialmente a medida com um acréscimo na carga de encomendas. Houve uma forte carga policial a 16 de maio contra o piquete de greve. Duas trabalhadoras foram detidas e uma outra teve de receber cuidados médicos nas urgências. A procuradoria lançou ainda uma investigação à agressão de um sindicalista à porta de sua casa por vários homens armados que se apresentaram como “polícias à civil”, lhe chamaram “grevista sujo” e ameaçaram a sua família. A CGT acusou a administração de várias intimidações, de semear a discórdia, virando as trabalhadoras não grevistas contra as grevistas e a sua dirigente, Sophie Binet, classificou o fundo de investimento que comprou a empresa como um “patrão bandido” que “especula com o trabalho das operárias” e as trata assim porque “são maioritariamente mulheres” e chegou a apelar ao boicote à marca.

 

Termos relacionados França, Greve, Internacional
(...)