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A dívida estudantil é a nova bomba de relógio do sistema financeiro

A dívida dos empréstimos aos estudantes dos EUA aumentou 42 mil milhões de dólares no terceiro trimestre de 2012 e aproxima-se do bilião de dólares (956.000 milhões de dólares), superando amplamente a dívida dos cartões de crédito. Por Marco Antonio Moreno.
"Esta geração é demasiado grande para falir" - A dívida estudantil norte-americana é de 956.000 milhões de dólares - Imagem de Occupy Posters/Flickr

Uma das consequências da financiarização da economia desenvolvida desde os anos 80 é o forte incremento da dívida privada e os seus silenciosos custos derivados desse abusivo conceito que é a “magia do juro composto”, tema ao qual dedicámos um artigo1. O crescimento exponencial da dívida pela via dos juros levou o mundo ao atual colapso em câmara lenta, que se sofre em todos os cantos do planeta. Os créditos estudantis de cobrança duvidosa nos EUA chegam aos 110 mil milhões de dólares.

Como mostra o gráfico extraído dos dados da Reserva Federal de Nova York2, a dívida estudantil aumentou 42 mil milhões de dólares no terceiro trimestre e aproxima-se do bilião de dólares (956.000 milhões de dólares), superando amplamente a dívida dos cartões de crédito. Mas enquanto a dívida dos cartões de crédito desceu cerca de 2 por cento entre janeiro de 2003 e setembro de 2012 (como parte do processo de desalavancagem financeira que sofre essa economia) passando de 688.000 milhões de dólares para 674.000 milhões de dólares, a dívida estudantil quadruplicou, passando de 241.000 milhões de dólares em janeiro de 2003 para 956.000 milhões de dólares em setembro deste ano, aumentando cerca de 297 por cento no período a uma média de 16,4 por cento anual.

Empregos que não requerem nenhuma qualificação

O dado mais preocupante destes dados é que a dívida estudantil de cobrança duvidosa chega a 11 por cento (110 mil milhões de dólares), e que cerca de 37,8 por cento dos afortunados graduados universitários que conseguiram um emprego, conseguem-no em postos que não requeriam nenhum tipo de grau académico. Centenas de milhares de engenheiros, arquitetos ou advogados guiam um táxi, fazem limpezas ou servem à mesa em restaurantes. Como é previsível, o salário precário que recebem por estes serviços não lhes permite pagar a dívida contraída para conseguirem uma carreira que talvez nunca exerçam.

Este é o lapidar futuro por que podem esperar milhões de jovens no mundo que se endividaram para ter uma profissão que os brindasse com o sonho do progresso. Como tinha sido assim durante décadas, ninguém advertiu da profunda mudança social que a humanidade estava a viver ao superar as metas do autenticamente sustentável. (...)

De acordo com os dados da Fed, a proporção dos saldos dos empréstimos dos estudantes norte-americanos que se encontram em mora superou a dos saldos dos cartões de crédito no terceiro trimestre deste ano. Isso significa que dos 956 mil milhões de dólares em dívida de empréstimos estudantis, no terceiro trimestre de 2012 cerca de 11 por cento entraram em mora face aos 9 por cento do segundo trimestre. A cifra supera os 10,5 por cento de morosidade da dívida de cartões de crédito, e é também muito superior à morosidade da dívida hipotecária, linhas de crédito e empréstimos automóveis que se situam em 5,9 por cento, 4,9 por cento e 4,3 por cento, respetivamente.

Segundo os dados oficiais, a dívida estudantil de cobrança duvidosa quase duplicou desde o ano 2003 passando de 6,1 por cento para os atuais 11 por cento. No entanto, esta dívida pode ser realmente muito superior dado que a Fed subestima a taxa real ao não considerar os adiamentos, pedidos de adiamento de pagamentos ou acordos de redução nos pagamentos. Por outras palavras, o crédito malparado dos empréstimos estudantis pode estar próximo dos 20 por cento, o que implicaria um sério colapso para a indústria financeira que se alimenta da geração de crédito e da cobrança constante da reprodução de juros.

Num artigo publicado em CNBC3, Scott Cohn cita os seguintes factos deste problema:

1. O estudante universitário médio licenciado em 2011 tinha uma dívida de 26.600 dólares em empréstimos estudantis;

2. 70% dos licenciados têm dívida estudantil;

3. 37,8 por cento dos licenciados trabalha em empregos que não requeriam título universitário;

4. Os cortes orçamentais do Estado aumentaram os custos de matrícula e as famílias têm, cada vez mais, de pedir maiores empréstimos para financiar a educação

A bolha dos empréstimos estudantis é a nova pandemia que começa a sofrer o sistema financeiro. E à medida que o desemprego continua acima dos 8 por cento e não se criam novos postos de trabalho com uma remuneração de acordo com as expectativas laborais, esta pandemia continuará a espalhar-se pela via depredadora do juro composto. Como indica Zero Hedge4 a mora dos créditos estudantis deixa-nos à porta da próxima crise subprime. Uma crise que terá consequências mais devastadoras que a de 2007/2008 de que ainda padecemos.

Artigo de Marco Antonio Moreno, publicado em El Blog Salmón


1 http://www.elblogsalmon.com/economia/la-magia-del-interes-compuesto-y-su-impacto-destructivo-en-la-economia-mundial

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