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A culpa é da vítima?
Em Portugal temos um deputado segundo o qual o responsável pelos insultos homofóbicos é quem os ouve, assim como o responsável pelas agressões é quem as sofre.
Em pleno século XXI, temos um populista a considerar que se a vítima tem uma orientação sexual diferente pode acabar insultada e até agredida.
Segundo a notícia do Expresso, agora aprofundada pela TSF, José Pedro Correia tem 26 anos e tinha uma vida normal até estabelecerem a sede concelhia do partido de extrema-direita de Viseu por cima do estabelecimento comercial onde trabalha.
Deste modo, desde há meio ano para cá, e desde o advento deste ninho homofóbico, José Pedro Correia passou a ser insultado regularmente pelos militantes do partido de extrema direita.
Por consequência deste escalar de violência, na quarta-feira, 21 de Julho, enquanto trabalhava, um dos militantes radicais resolveu chamar-lhe gratuitamente "Maria Papoila".
Este foi apenas mais um dos insultos que ouviu desde há meio ano. Notem também que a ofensa "Maria Papoila" traduz na perfeição o ódio homofóbico e a violência de género que a extrema-direita protagoniza.
Ao chamar "Maria" pretendem chamar mulher a um homem, que se assume como homem, mas que tendo todo o direito à sua individualidade, tem a sua orientação sexual.
Ao intitular de "Papoila" o extremista usa uma das ofensas predilectas dos agressores homofóbicos, apelidar de "florzinhas" as pessoas que têm outra orientação sexual, ou que simplesmente revelam empatia e sentimentos pela causa.
Assim, os agressores pretendem retirar o direito ao género a pessoas que não tenham a mesma orientação sexual que eles, tentando assim discriminar e segregar a população.
Portanto, os agressores procuram desumanizar a vítima e que a maioria a veja como diferente e anormal, tentando assim legitimar a sua violência verbal e física.
Por isto mesmo, a luta LGBTQIA+ estará sempre intimamente ligada à luta Feminista. É a mais antiga luta contra a opressão, contra o machismo e contra a violência e discriminação de género do Patriarcado.
Mas, desta vez, José Pedro Correia não se deixou ficar e num ímpeto de resistência reagiu ao insulto com um simples "conheço-o de algum lado?". Esta pergunta foi o suficiente para o militante do Chega passar dos insultos à ameaça. E, tendo a vítima respondido à ameaça, o radical de direita partiu então para a agressão.
O caso é muito grave, mas toma contornos ainda piores porque o próprio candidato da extrema-direita à Câmara de Viseu, Pedro Calheiros, interveio na altercação segurando a vítima por traz enquanto era agredida na "cara, corpo e braços" pelo outro militante extremista.
Contudo, o caso ainda consegue piorar quando a vítima chama as autoridades para identificar os intervenientes e para apresentar queixa crime pelas agressões ocorridas. A vítima, José Pedro Correia, alega que um dos agentes o terá intimidado, tendo a vítima referido que o agente tentou demovê-lo de apresentar queixa já que o candidato do Chega à Câmara de Viseu é uma alta patente da PSP na reserva. A vítima referiu que pondera agora apresentar queixa também contra o agente em questão.
No meio de toda esta confusão e triste acontecimento que precisa de ser repudiado, o que é que o deputado ex-assalariado do grupo Cofina e da Finpartner faz? Veste a camisola radical, beija o símbolo populista e vomita a sua cartilha homofóbica.
Desta forma, o líder da extrema-direita continua a promover contra informação, notícias falsas e o "whataboutismo" dos seus militantes, com um discurso perigoso que apenas alimenta e fomenta o ódio e a violência. Assim continua a promover a discriminação e a segregação das pessoas com base na sua orientação sexual, proveniência e género, tentando rotular de anormal quem não obedece aos seus critérios neofascistas.
Quem se deixa levar e enganar por este promotor da mentira e da discórdia, seguramente não é melhor do que ele.
Artigo de Luís Lisboa
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