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Cuidado! A tua ‘webcam’ pode estar a espiar-te

Apesar da maior parte dos hackers ter como principal objetivo roubar dados pessoais do utilizador ou aceder às suas contas bancárias, há outras ameaças, cada vez mais sofisticadas, de que nós utilizadores nos deveremos proteger. Por Manuel Moreno.
É possível ativar as webcams de maneira remota – Foto de Mofetos/Flickr

Algumas afetam atividades que realizamos quotidianamente sem nos preocuparmos em demasia, ou afetam até componentes dos nossos dispositivos eletrónicos, que podemos nem sequer utilizar ou não saber que podem ser alvos dos cibercriminosos.

É o caso das webcams incorporadas nos nossos computadores pessoais, alguns monitores ou até as televisões inteligentes (Smart TV), que permitem ao utilizador ligar-se à Internet. Tecnicamente é possível ativá-las de maneira remota, ou pô-las sob o comando de hackers para continuarem a captar imagens depois de, por exemplo, termos feito uma vídeo-chamada para um familiar ou um amigo.

Se é possível tecnicamente, não há que subestimar a capacidade dos ciberdelinquentes. “Sem a proteção adequada do nosso computador ou do nosso dispositivo eletrónico, qualquer câmara poderá ser convertida num espião silencioso que emite imagens da nossa casa à distância”, assinala Luís Corrons, diretor técnico da PandaLabs em Panda Security.

Esta ameaça real é algo que poucos conhecem. De facto, segundo os dados da Kaspersky Lab, metade dos espanhóis não sabe que alguém poderá aceder à sua webcam e controlá-la de maneira fraudulenta, e só 24% está consciente de que poderá ser espiado também a partir das câmaras incorporadas no smartphone ou no tablet.

Ainda que pareça mentira, é algo que já aconteceu tanto a personagens famosas como a anónimos. Talvez o caso mais conhecido seja o de Cassidy Wolf, Miss Teen USA 2013. O computador dela foi infetado com um vírus que instalou no equipamento um programa que permitia aceder à câmara e ativá-la de forma remota.

Do outro lado do ecrã, quem controlava as gravações conseguiu várias imagens de Cassidy nua na sua habitação, e utilizou esses vídeos para lhe extorquir dinheiro. O FBI conseguiu deter o cibercriminoso e apreendeu-lhe um arsenal completo de gravações de dezenas de utilizadores anónimos.

É possível ativar de maneira remota as webcams incorporadas nos nossos portáteis – Foto da wikipédia

O pedido de dinheiro em troca das gravações é apenas um dos motivos lucrativos que podem levar delinquentes a manipular câmaras alheias. “Em 2011, descobrimos uma variante de um 'cavalo de tróia' bancário capaz de pôr em marcha não só o funcionamento da webcam, mas também o próprio microfone do computador. Estava programado para começar a funcionar assim que detetasse algum tipo de transação financeira e permitia aos seus criadores comunicar sem problemas com as vítimas que, assim, davam a máxima legitimidade a uma comunicação feita enquanto estavam ligados à página oficial do seu banco”, avisa Ignacio Heras, responsável pela Comunicação da firma de segurança G Data em Espanha.

Uma situação como a descrita era uma excelente oportunidade para os ciberdelinquentes tentarem defraudar as suas vítimas, estimulando-as, por exemplo, a realizarem determinados movimentos de dinheiro que poderiam acabar nas suas próprias contas bancárias.

A cena parece rocambolesca mas, ainda que possa ocorrer, há que ter cuidado com outras situações mais comuns, aparentemente seguras, que poderão acontecer. Por exemplo, se deixarmos um cartão de crédito na mesa do nosso escritório depois de realizarmos uma compra online e a nossa webcam está infetada, o hacker poderá ter acesso aos números do cartão.

Também podemos correr risco se tivermos anotada a senha da conta num papel a que a câmara do televisor, do tablet ou do telemóvel possa ter acesso. Ou para complicar mais, os ciberderdelinquentes poderiam usar a webcam do computador para fazer uma ideia do mobiliário e do conteúdo das casas espiadas, o que os ajudaria a saber em quais quereriam entrar e o que quereriam levar.

Que devemos fazer para nos protegermos?

A solução mais rudimentar mas também a mais efetiva é colocar um simples pedaço de fita adesiva ou outro tipo de adesivo na webcam para evitar que alguém nos roube imagens comprometedoras da nossa vida privada - Foto Gavin Stewart/flickr

A solução mais rudimentar mas também a mais efetiva é colocar um simples pedaço de fita adesiva ou outro tipo de adesivo na webcam para evitar que alguém nos roube imagens comprometedoras da nossa vida privada.

Além disso, ter instalado um sistema de proteção antivírus que seja eficiente para alertar o utilizador quando uma aplicação instalada no equipamento tentar aceder à webcam do computador ou do dispositivo móvel. E que negue autorização a não ser que o utilizador dê permissão de forma expressa.

“Certamente, também só devemos realizar videoconferências ou enviar imagens melindrosas a quem for de absoluta confiança e, mesmo neste caso, deveremos questionar-nos se realmente queremos mesmo enviar esse material”, acrescenta Josep Albors, diretor do laboratório da ESET Espanha.

Face a isto é necessário um trabalho de educação da população internauta e dos jovens em particular, para que estejam conscientes das consequências nefastas que podem ter imagens pessoais, roubadas ou não, que circulem sem qualquer controle na Internet.

Artigo de Manuel Moreno, publicado em cuartopodes.es em 8 de novembro de 2014. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

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