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Crise bancária: José Gusmão questiona se BCE insistirá em aumentar juros

Na segunda-feira, após a recente falência do Silicon Valley Bank, o fecho do Signature Bank e do Silvergate Bank, o presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, disse não haver riscos de contágios e sublinha que os bancos europeus estão melhor capitalizados que os bancos norte-americanos. Garantiu que a queda do SVB resultou do “modelo de negócios específico” desse banco e que “o cenário na Europa é muito diferente”, defendendo que “os nossos bancos estão, no geral, em boa forma. Reforçamo-los imenso nos anos recentes e estão todos sob supervisão próxima das autoridades nacionais e europeias”.
Por sua vez em Portugal, Fernando Medina transmitiu a mesma mensagem, frisando que as duas realidades “não são comparáveis”, designadamente na “forma como era gerido, o mercado aonde se direcionava e as regras que eram aplicáveis”. Elogiou as regras prudenciais aplicadas à banca na União Europeia. A Associação Portuguesa de Bancos (APB) também se mostrou segura.
No entanto, bastaram dois dias para que as bolsas europeias fossem abaladas pela queda da cotação do Credit Suisse, após o seu maior acionista, o Saudi National Bank, ter afirmado que não pretendia reforçar a posição no capital do banco que nos últimos anos esteve envolvido em vários escândalos financeiros. A queda em bolsa do Credit Suisse para os mínimos de sempre quase atingiu os 30% esta quarta-feira, arrastando consigo o setor bancário europeu e os principais índices bolsistas.
Presidente do SBV no lóbi bancário que conseguiu regulação mais fraca nos EUA
No centro da comparação entre os dois sistemas bancários estão as isenções introduzidas pela administração de Donald Trump em 2018 à lei financeira Dodd-Frank criada após a crise internacional de 2008.
Sabe-se até que o próprio presidente do SVB, Greg Becker, teve um papel importante no relaxamento da fasquia regulatória. Em 2015 submeteu um pedido ao Senado para que mais bancos, incluindo o seu, fossem isentos da regulação e gastou meio milhão de dólares em lóbi a nível federal.
A preocupação era que o SVB, atingindo um total de 50 mil milhões de dólares em ativos, passaria a ter obrigações prudenciais mais restritivas, incluindo testes de esforço frequentes e maiores requisitos de solvabilidade (capital) e liquidez. Insistiu que o limiar a partir do qual a lei fosse aplicada passasse a ser 250 mil milhões. Em 2018 foi introduzida esta exclusão para bancos de pequena e média dimensão.
Para além disso, em 2019 Becker foi eleito para ter assento na administração do Banco da Reserva Federal de São Francisco, que é parte do banco central norte-americano.
José Gusmão questiona se BCE pensa abrandar aumento das taxas de juro
Dada a situação atual, o Parlamento Europeu convocou um debate em plenário com a presença da Comissão Europeia para discutir as implicações para o sistema financeiro da União Europeia.
A desregulação financeira que conduziu a que quase 90% dos depósitos do SBV estivessem descobertos, teve um papel crucial no desencadeamento da sua falência. Contudo, como já explicado pelo Esquerda.net, o aumento das taxas de juro levou a uma desvalorização do balanço do banco, impossibilitando o seu refinanciamento.
O eurodeputado José Gusmão tomou a palavra, começando por referir que “a indústria financeira é a única do mundo que continua a não se aguentar de pé sem apoios públicos e sem garantias públicas. Mesmo num tempo de política monetária restritiva, politica salarial restritiva, politica orçamental restritiva, para a banca continua a não haver restrições”.
Sublinhou que a grande questão que agora se impõe é se o Banco Central Europeu, de forma semelhante à posição mais prudente da Reserva Federal, irá abrandar o ritmo da subida das taxas de juro. “Hoje sabemos que esta política monetária restritiva é ineficaz e encerra múltiplos riscos económicos, inclusive para o sistema financeiro”.
Contudo, parece que o BCE na sua próxima reunião dia 16 de março irá manter o aumento esperado das taxas de juro diretoras.
Gusmão rematou condenando a tentativa europeia de convergência com o modelo bancário americano, altamente titularizado, e defendendo antes um modelo mais conservador com forte regulação e presença pública.
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