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Covid-19: Suécia é o país nórdico com mais alta taxa de mortalidade

A Suécia optou por uma estratégia de combate à Covid-19 com poucas restrições e baseada na responsabilização individual e voluntária da população. A elevada taxa de taxa de mortalidade levantou muitas dúvidas sobre o sucesso da estratégia, mas há quem defenda que dará frutos a longo prazo.
Foto de Milton Jung/Flickr

Com uma população de cerca de 10.3 milhões, a Suécia registou até esta segunda-feira 19.621 casos confirmados de coronavírus e 2.355 mortos. A vizinha Dinamarca, um dos primeiros países europeus a determinar medidas de confinamento, com pouco mais de metade da população (5.8 milhões) regista 9.049 casos e 434 mortos. Também a Noruega, que entrou em confinamento em meados de Março, e que tem uma população de 5.4 milhões, regista actualmente 7.619 casos positivos e 206 mortos. E a Finlândia, o país nórdico com os números mais baixos, com uma população de 5.5 milhões, regista 4.740 casos confirmados e 199 mortos. 

A Suécia figura entre os 20 países com maior número de casos confirmados a nível mundial. Mas estes números estão aumentar entre os mais idosos, 50% do número total de mortos era residente de lares de terceira idade. 

A 28 março, uma petição assinada por 2000 pessoas incluindo o presidente da Fundação do prémio Nobel, Carl-Henrik Heldin, solicitava ao governo sueco para tomar medidas conformes as recomendações da OMS, e que abandonasse esta estratégia para criar imunidade de grupo, uma vez que a mesma é duvidosa do ponto de vista científico.

O governo negou que houvesse na sua estratégia qualquer intenção de criar imunidade de grupo. Contudo, Jan Albert, Professor no Departamento de Microbiologia, Biologia Celular e Tumoral, do Karolinska Instituet, declarou à CNN que acreditava que a maioria dos cientistas suecos estava “relativamente silenciosa” sobre a imunidade de grupo, por acreditarem que poderá funcionar. E questionou: “Qual é a estratégia dos outros países? Esta pode ser a única coisa que eventualmente poderá parar isto, a não ser que haja uma vacina a tempo, o que é pouco provável”. E acrescentou: “a verdade é que ninguém, ninguém na Suécia, nem ninguém em qualquer outra parte, sabe qual é a melhor estratégia. Só o tempo o dirá” e que “desde que o sistema de saúde seja razoavelmente capaz de dar resposta e de cuidar bem de quem precisa, não é certo que adiar os casos para mais tarde seja melhor.”

Anders Tegnell, o epidemiologista do Estado, e o responsável pela maioria das conferências de imprensa oficiais relativas à pandemia e aos números do vírus na Suécia, acredita que a Suécia estará melhor posicionada para aguentar uma nova vaga, uma vez que os suecos estiveram expostos ao vírus. “Sabemos muito pouco sobre a imunidade desta doença, mas a maioria dos especialistas na Suécia concorda que algum tipo de imunidade definitivamente vamos ter, porque muita gente que foi testada até agora produziu anti-corpos. Esperamos que isto facilite as coisas a longo prazo.” Relativamente aos números, Anders Tegnell realça que ainda há muita capacidade de resposta nas unidades de cuidados intensivos e há um hospital de campanha que ainda não foi usado. “O sistema de saúde sueco continua a trabalhar, basicamente com muito stress, mas não de uma forma em que seja necessário mandar pacientes para trás.”

Um relatório recente de uma agência de saúde pública indica que um terço da população de Estocolmo terá sido infetada até ao início do mês de Maio. Esse número foi posteriormente corrigido para 26%, mas vários cientistas acreditam que as previsões estão aquém da realidade. Johan Gieseck, ex cientista chefe do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, acredita que pelo menos metade da população da capital sueca terá apanhado o vírus até ao final do mês. 

A preocupação actual do governo são os lares, e o reforço da proteção dos que aí residem. Quer a Ministra da Saúde, quer a Ministra dos Negócios Estrangeiros, quando questionadas pelos jornalistas sobre a estratégia sueca, foram unânimes em responder que é muito cedo para tirar conclusões e para julgar o seu país pela estratégia seguida no combate à Covid-19.

O que acontecerá na Suécia depende da forma como a população der continuidade à prática, que muitos reivindicam como questão cultural, do distanciamento social e demais medidas voluntárias.

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