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Covid-19: as razões dos dramáticos números belgas

A Bélgica tem chamado a atenção pela sua elevada taxa de mortalidade, ultrapassando mesmo países como a Itália e a Espanha a nível europeu. A primeira-ministra atribui o facto a uma opção das autoridades belgas por uma transparência total dos números.
Foto de Jean-Paul Remy/Flickr

Com 11,46 milhões de habitantes, um número muito próximo do da população portuguesa, a Bélgica regista até esta segunda-feira 39.983 casos positivos confirmados de Covid-19 e 5.828 mortes. A taxa de mortalidade é mesmo superior à registada na vizinha Holanda, um dos países europeus com percentagens mais elevadas, e que regista à mesma data um total de 33.588 casos positivos confirmados de Covid-19 e 3.764 mortes.

Steven Van Gucht, que preside à Comissão Científica para o Coronavirus do governo belga, disse ao POLITICO que “quem quiser compreender o nosso número tem que o dividir por dois. Qualquer outra comparação não é relevante”.

De acordo com as autoridades belgas, enquanto a maior parte dos países, como a Alemanha, a França ou o Reino Unido, entre outros, apenas contabiliza as mortes ocorridas em meio hospitalar, a Bélgica está a incluir nos seus boletins diários as mortes nos lares de 3ª idade, incluindo os casos em que não está confirmada a Covid-19 como causa da morte.

Segundo Joris Moonen, porta-voz da agência da Região da Flandres que tutela os lares de 3ª idade, não havia no início testes suficientes para testar extensivamente todos os residentes e funcionários dos lares, então “optámos por registar todas as mortes que pudessem estar potencialmente ligadas à Covid-19 para perceber quais os lares que tinham sido atingidos pelo vírus. Estávamos cientes que isso levaria a uma sobrestimação, mas entendemos que a sinalização era mais importante”. Também o médico Raf De Keersmaecker, explicou que no Limburg, uma das províncias belgas mais afetadas pela pandemia, explicou à Sky News que todas as mortes estão a ser contabilizadas. “Contamos tudo. As mortes que acontecem em todo o lado, não apenas nos hospitais. Se achamos que a pessoa morreu de Covid-19, contamos. Claro que isso leva a um número maior de mortos no nosso país”.

Para compreender o surto e definir estratégias de prevenção e combate ao coronavirus é fundamental conhecer os números. Por isso Emmanuel Andre, um dos responsáveis pela comunicação do Ministério da Saúde que diariamente apresentam os boletins epidemiológicos, “o objetivo de incluir os casos suspeitos é ter a melhor imagem possível do nível do problema na nossa comunidade, incluindo fora dos hospitais. E se soubermos isso, então podemos agir melhor na hora de controlar a pandemia na fonte do contágio”.

Em resposta a diversas críticas, quer de políticos quer de médicos, o governo decidiu alterar na semana passada os seus boletins diários, de forma a distinguir diariamente o número de mortes ocorridas em hospitais e as ocorridas em lares, e em relação a estes últimos ainda se distingue os casos confirmados de Covid-19 e os casos suspeitos. De acordo com as declarações ao POLITICO de um funcionário do governo que pediu o anonimato, “não estamos a mudar a forma de contar, mas estamos a comunicar de forma diferente a origem dos números. Não queremos que as pessoas se preocupem porque a Bélgica de repente está no topo dos rankings de mortes per capita. Estamos a fazer um esforço por ser transparentes e para explicar isso aos nossos cidadãos”.

O governo belga espera que, à medida que a capacidade de testar possa abranger todos os residentes e funcionários destas instituições, o número se torne mais exato.

Há quem tema que seja tarde, que o excesso de transparência da Bélgica venha a prejudicar a sua reputação internacional e que isso tenha consequências quando os países começarem a levantar o confinamento, nomeadamente para as empresas e turistas belgas. A essas preocupações o mesmo funcionário do governo respondeu: “nesta altura a nossa prioridade acima de tudo é a transparência em relação à nossa população. A nossa imagem internacional vem depois”.

Na semana passada, após reunião do Conselho de Segurança Nacional, a primeira-ministra Sophie de Wilmes anunciou o prolongamento do período de confinamento até 3 de Maio, permitindo entretanto a reabertura de algumas pequenas lojas e centros de jardinagem, por exemplo. Mas as pessoas continuam impedidas de sair de casa a não ser para ir fazer compras essenciais, ir ao supermercado, à farmácia, ou para passeios higiénicos. Também as multas previstas para quem não cumprir as medidas de isolamento social, no valor de  250 euros no caso da primeira infração, ou 350 euros em caso de reincidência, se mantiveram.

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