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Covid-19: Cuidados a ter pelas grávidas

Os partos agora são diferentes? O que deve fazer uma grávida com sintomas? O vírus passa pelo leite materno? E pode ser transmitido ao feto? A ginecologista e obstetra Ana Campos responde aqui a estas e outras perguntas.

O Esquerda.net entrevistou a médica Ana Campos para conhecer o impacto do Covid-19 nas mulheres grávidas.

 

Que cuidados devem ter as mulheres grávidas?

De uma maneira geral, as grávidas têm que ter alguns cuidados nesta fase. Em primeiro lugar, como é evidente, têm de estar, como toda a gente, em recato, e devem ter alguns cuidados para não terem afeção ou contacto com alguém que possa estar infetado.

 

O que deve fazer uma grávida com sintomas de coronavírus?

Em primeiro lugar, e como todos os grupos, ligar para a Saúde 24 e expor a sua situação. E pode haver vários graus. O primeiro grau, o mais simples, é ter um contacto (com alguém infetado) e não ter sintomas ou ter alguma sintomatologia ligeira, e ficar em casa durante 14 dias. No caso dela própria ter contactado com alguém e ter o seu teste já positivo (e realizar teste ou não é uma definição do SNS24 e as pessoas não devem fazer testes porque sim mas de acordo com a estruturação e a organização da SNS24) e não ter sintomas, mantém-se em casa. Se o seu teste for positivo com sintomas ligeiros a moderados, mantém-se também em casa. Se os sintomas começarem a ser essencialmente uma febre alta que não passa, dor torácica e dificuldade respiratória, deve ir para um hospital, que é definido pelo SNS24, de acordo com aquilo que for a distribuição dos hospitais nas várias áreas.

 

As grávidas são população de risco para o Covid-19?

As grávidas, em primeiro lugar, são fator de risco para qualquer infeção. Porquê? Porque o sistema imunológico na gravidez está deprimido e as grávidas são um grupo suscetível às infeções em geral. Em relação às infeções virais, são um grupo de risco e o Covid-19, estamos a conhecê-lo neste momento. E portanto, convém que consideremos que as grávidas são de facto um grupo particular, ao qual é preciso prestar atenção. Os resultados que são conhecidos, dos estudos publicados por chineses, não nos dão muitos casos descritos ainda. Os primeiros trabalhos tinham números globais, sem separação dos casos de gravidez.

Depois apareceram alguns artigos sobre a situação nas grávidas. Não parece existir um grande número de casos muito graves e a maior parte são de intensidade mediana. Só houve necessidade, dos casos descritos, de duas grávidas que tiveram que ir para uma unidade de cuidados intensivos. De qualquer das maneiras são poucos casos, estamos a começar a ler as publicações e pode ser que a situação possa mudar num ou outro país, mas os dados dos chineses não parecem ser tão graves como foi o SARS de 2003, ou mesmo em 2009 o H1N1 em que houve situações graves de mulheres grávidas.

 

Se uma grávida estiver infetada transmite ao feto?

Teoricamente poderia acontecer que houvesse uma transmissão. Mas os casos que nós encontrámos e os casos que lemos das descrições dos chineses, não mostram nenhum caso que se possa explicar como transmissão vertical.

Houve alguns casos de infeção de recém-nascidos, mas que não foi atribuída a uma infeção vertical, mas sim a uma infeção horizontal. Ou seja, o contacto com a mãe doente ou com alguém próximo com contacto com o vírus.

Porque é que já se têm algumas seguranças sobre isso? Porque a maior parte dos bebés quando nasce faz os testes, os testes são feitos na orofaringe mas também no sangue do cordão umbilical e no líquido amniótico. Também se poderia fazer no esfreganço da placenta mas são essencialmente o cordão umbilical e o líquido amniótico que nos dizem se a infeção estava presente na gravidez ou não. Em todos os casos, esses resultados foram sempre negativos.

 

Se a mãe está infetada, isso tem implicações no parto?

Ao contrário de outras situações, parece haver uma repetição de casos em que há rutura prematura de membranas. Ou seja, a rutura da bolsa de águas antes do trabalho de parto. Essa rutura deve-se provavelmente à inflamação, que é causada pelo vírus e os casos em que isso sucedeu os bebés não estavam afetados com o vírus.

Por outro lado, é importante também dizer que em alguns casos durante o trabalho de parto houve sinais de sofrimento fetal e portanto foi necessário fazer muitas cesarianas. Nos números, nas séries chinesas o número de cesarianas é elevado. A razão principal das cesarianas é o sofrimento fetal intra-parto. Parece haver alguma hipóxia, alguma falta de oxigenação à placenta, em trabalho de parto, o que faz com que os bebés possam ter sinais de sofrimento fetal.

 

O vírus passa pelo leite materno?

Temia-se no início que houvesse transmissão do vírus pelo leite materno. E por isso houve nos chineses a separação durante 14 dias das mães e dos recém nascidos. Aquilo que era permitido era retirar o leite por bomba e entregar para ser o bebé alimentado por biberão com o leite materno. Mas na realidade também não se encontraram vírus no leite materno e algumas normas de conduta, essencialmente os grupos ingleses consideram que se a mãe quiser amamentar é muito importante que cumpra os cuidados de higiene fundamentais que deve ter sempre: lavar as suas mãos, boa higiene corporal e usar uma máscara enquanto estiver a dar de mamar, se tiver sintomatologia.

 

A pandemia vai alterar a forma como se fazem os partos nos hospitais?

A maior parte dos hospitais ainda não tem experiência desta situação. Em Portugal há dois casos, até agora. Na Europa com certeza já haverá experiência, em Espanha e Itália seguramente, mas não há ainda publicação de situações. A OMS, o Royal College inglês, apresentam algumas indicações. E o Royal College é aquele que, no fundo, é mais liberal em relação seja à amamentação, permitindo que a mãe amamente se quiser, ou a presença de um acompanhante. Portanto, não sabemos ainda que atitude vai ser assumida dentro dos vários países, para depois se poder fazer uma avaliação.

 

Que diferenças poderá trazer para as grávidas?

O facto dos bebés serem separados das mães, é alguma coisa que as mulheres grávidas já não estavam à espera. Portanto, isto vai ter consequências bastante significativas. Também nas situações de doença ativa, a presença de um acompanhante no trabalho de parto, que é sempre muito importante, vai haver algumas restrições a isso.

Existe um abaixo-assinado a pedir para que haja normas, em relação a parceiros não infetados, ou pais das crianças, mães das crianças, ou alguém que a grávida escolha como seu apoio, desde que não haja infeção nesse indivíduo, homem/mulher, possa estar presente. Mas não tem sido o que tem acontecido e o que está descrito na maior parte das normas de conduta.

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