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A cortina de ferro do PCP
“O Bloco de Esquerda valoriza o contributo que o PCP tem dado para uma política de recuperação de rendimentos, direitos e serviços públicos e está disponível para encontrar novas formas de diálogo e cooperação com o PCP para a solução dos problemas dos trabalhadores.” Este objectivo está consagrado nas linhas de orientação da “Moção A” aprovada por maioria na X Convenção do Bloco de Esquerda.
É o reconhecimento das soluções que o PCP tem preconizado para a actual maioria parlamentar de esquerda que suporta o Governo do PS.
Mas foi precisamente desde que PS, BE, PCP e PEV estabeleceram uma plataforma de reposição de direitos dos trabalhadores, dos pensionistas e das pessoas mais atingidas pela calamitosa gestão do Governo PSD/CDS, que os comunistas intensificaram os seus ataques sectários ao Bloco, tentando muitas vezes travar uma espécie de luta de protagonismo sobre matérias que o BE conseguiu negociar com o Governo, designadamente, em matéria de Orçamento de Estado. Se o Bloco foi mais ágil, mais moderado e mais flexível à mesa das negociações com os socialistas, isso é um problema do PCP. Só assim se compreendem as picardias de deputados como Miguel Tiago, João Oliveira e os já célebres editoriais do “Avante”. As tiradas irónicas de Jerónimo de Sousa, posteriores ao célebre discurso na noite das eleições presidenciais da “candidata engraçadinha” referindo-se a Marisa Matias.
Picardias e posições hostis à parte, eis que as Teses ao XX Congresso do próximo fim-de-semana, contêm as mesmas expressões de sectarismo, que em minha opinião, podem dificultar no futuro um entendimento mais sólido com o PCP, ou melhor com “este” PCP. Em minha opinião, o PCP ofende, esconde e mente, no que toca ao BE, no capítulo das Teses dedicado à forma como vê os outros partidos. Desde logo mente quando diz que o BE “continua a beneficiar de uma promoção e proteção mediáticas”queixando-se da pouca atenção que os jornalistas dão ao PCP. Não é verdade, sabendo-se que há muitos colunistas do PCP em jornais nacionais de referência, deputados nos canais de informação na TV, nas rádios. Quanto à notoriedade do PCP, estamos conversados. Talvez o PC gostasse de ter uma comunicação social domesticada como o “Avante!”, o velho “Pravda”, a Rádio Moscovo, etc.
Mente também, por ignorância e má-fé, e por não ter lido quer os Estatutos quer as Resoluções das Convenções e outros documentos do Bloco de Esquerda ao afirmar que o BE ”cultiva uma agenda e um posicionamento assentes num verbalismo que não altera o seu carácter social-democratizante”. Social-democrata? Bastava aos autores das Teses e aos membros do Comité Central lerem os Estatutos do BE que não deixam margem para dúvidas logo no seu 1ºArtigo: ”O Bloco de Esquerda defende e promove uma cultura cívica de participação e de ação política Democrática como garantia de transformação social, e a perspetiva do socialismo como expressão da luta emancipatória da Humanidade contra a exploração e opressão”. Além destes princípios consagrados, não é sério encostar-se o Bloco à família social-democrata, nem pela sua agenda e posições políticas e económicas a nível nacional, nem europeias. Verdade seja dita, o PCP é capaz de dizer e fazer tudo e o seu contrário, até mesmo alianças pós-eleições em municípios como Loures e Barreiro, só para se agarrar ao poder como uma lapa. PSD que nem sequer é “social-democrata”.
E prosseguem as teses com a sua manipulação, ao referir que o Bloco revela “diferenças nítidas, quer no plano da União Europeia e das conceções federalistas que o norteiam quer nas políticas e nas prioridades de ação no plano nacional". Federalismo? As posições do Bloco sobre o Euro, contra o directorio da UE, contra o Tratado Orçamental (com uma campanha nacional de recolha de assinaturas,de sessões informativas, debates, no ano passado que nem PCP, nem outra força realizaram), o BCE, a corrupção, a falta de transparência e democraticidade das instituições europeias, são precisamente a antítese de concepções federalistas, são antes a reafirmação de defesa da soberania nacional.
O PCP continua a correr uma cortina de ferro, não só em relação ao Bloco, mas às forças da sociedade civil, que Jerónimo de Sousa, considera “inorgânicas”. O XX Congresso vai também criticar (está nas Teses) esses movimentos sociais mobilizadores nos últimos anos de milhões de portugueses. Recupero o que escreveu em Outubro na “Visão”, João Semedo: “O PCP olha para a luta social com um filtro: só vê e valoriza o que existe por sua influência, o que traduz e acentua o seu afastamento do movimento social e das suas lutas, das novas realidades e forças que emergem. O movimento “Que se lixe a troika” (organizou as maiores manifestações dos últimos 40 anos) ou a associação APRe! (mobilizou os reformados para a luta social como nunca se tinha visto) são completamente ignorados e excluídos da dinâmica social”.
Comentários
Eu acho que o PCP não quer
Eu acho que o PCP não quer ficar com o protagonismo, por exemplo, de uma proposta de aumento do salário Mínimo para, apenas, 557 euros, como fez o BE, quando se procura negociar mais além, nos 600 €, ainda assim aquém do que foi assinado no anterior governo PS.
Mas prontos, para o BE quem exige é sectário, quem aceita o que patrão dá de esmola é que é modernaço e engraçadinho.
Este comentário acima resume
Este comentário acima resume em poucas linhas as teses do congresso do PCP: o Bloco é uma manobra do patronato para dividir a classe operária. É muito triste que não tenham aprendido nada nos últimos 17 anos, mas a verdade é que o muro caiu há mais de 25 e ainda hoje olham para o Putin como o salvador do planeta...
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