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Como prevenir as inevitáveis alterações climáticas

Embora os países menos adiantados contribuam pouco para o aquecimento global, frequentemente são os primeiros a sentir os seus efeitos. Por Amanda Bransford, para a IPS
Inundações no Bangladesh. Foto de auspices, FlickR

Nações Unidas – As inundações do Paquistão chegaram à sede da Organização das Nações Unidas quando os países da Ásia meridional reclamaram o cumprimento das obrigações de transferência de tecnologia para enfrentar as consequências das alterações climáticas.

Os desastres naturais são mais frequentes e ferozes na Ásia meridional por causa das alterações climáticas, disse a primeira-ministra de Bangladesh, Hasina Wazed, numa reunião paralela da Cimeira Mundial sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), que terminou na semana passada. “Além do mais, o anormal e rápido derretimento das geleiras do Himalaia e o aumento do nível do mar fazem prever cataclismos como consequência”, acrescentou.

Vários factores tornam as nações da Ásia meridional particularmente vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas: a elevada pobreza, a dependência de indústrias como a da pesca – sensíveis aos variáveis níveis do mar e às tempestades mais fortes –, as pressões já existentes sobre a saúde e o bem-estar, como o vírus HIV (causador da sida) e o analfabetismo, a deficiente infra-estrutura económica e social em muitos lugares, e uma falta de tecnologia e recursos que tornam mais difícil a adaptação.

Embora os países menos adiantados contribuam pouco para o aquecimento global, frequentemente são os primeiros a sentir os seus efeitos, mediante desastres naturais como furacões, secas e inundações. A produção agrícola pode ser prejudicada e doenças transmitidas por mosquitos, como malária e dengue, podem aumentar na medida em que o clima sofre alterações.

“As alterações climáticas estão a impor cargas adicionais aos mais pobres e vulneráveis do mundo, e ameaçam reverter êxitos de desenvolvimento que tanto custaram a conseguir”, disse Helen Clark, administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Os desastres naturais travam o avanço que se deve conseguir para cumprir os ODM até 2015, enfatizou.

Os delegados debateram maneiras de mitigar problemas futuros. Helen destacou a importância de investir na redução de riscos de desastre, que custa menos e salva mais vidas do que esperar a ocorrência de um desastre natural. Os países da Ásia meridional actualmente trabalham juntos para criar um sistema regional de alerta e manejo de riscos. O apoio da comunidade internacional, mediante financiamento e transferência de tecnologia, é essencial, segundo os delegados.

Também são importantes as acções unilaterais, pois os países já afectados pelas alterações climáticas não podem dar-se ao luxo de esperar que o mundo comece a agir. Maldivas, por exemplo, propôs-se tornar-se neutra em carbono nos próximos dez anos, por meio de uma legislação sobre as emissões contaminantes.

Embora os delegados se mostrassem decepcionados pelo fato de os Estados-membros da ONU não acordarem um tratado climático vinculante em Dezembro do ano passado, em Copenhaga, agora preparam-se para levar as suas ideias à 16ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP 16), que acontecerá entre 29 de Novembro e 10 de Dezembro em Cancún, no México.

Como disse a ministra dso Negócios Estrangeiros mexicana, Patrícia Espinosa, os países não podem simplesmente esperar que os especialistas solucionem o problema, e devem concretizar mudanças reais, já que se trata de “um assunto político” que tem a ver com “como estão organizadas nossas sociedades”.

As organizações da sociedade civil também se reuniram no dia 21, para discutir as mudanças necessárias para mitigar os danos ambientais, num painel que vinculou a sustentabilidade ambiental com as mortes maternas. Ambos constituem dois dos ODM.

Estes, definidos em 2000 pela Assembleia Geral da ONU, incluem reduzir pela metade o número de pessoas que sofrem de pobreza e de fome, com relação a 1990; garantir a educação primária universal; promover a igualdade de género e reduzir a mortalidade infantil e a materna; combater a sida, a malária e outras enfermidades; assegurar a sustentabilidade ambiental e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento. Tudo isto até 2015.

O aumento da população gera pressão tanto sobre mães como sobre o meio ambiente. Os países com grande crescimento demográfico e uma alta vulnerabilidade às alterações climáticas estão em posição especialmente precária. O acesso universal aos serviços de saúde reprodutiva pode ser uma ferramenta na luta contra as alterações climáticas, disse Kathlenn Mogelgaard, da Population Action International.

Milhões de mulheres de todo o mundo querem poder controlar a sua saúde reprodutiva, mas carecem de acesso a estes serviços. A gravidez não planeada aumenta a proporção de mortes maternas e é obstáculo ao desenvolvimento, disse Musimbi Kanyoro, directora do programa de População e Saúde Reprodutiva da Packard Foundation.

A falta de acesso a métodos de planeamento familiar limita as opções de vida das mulheres e, nos países com poucos recursos, a terra deve fornecer sustento para mais pessoas do que é possível. Na ONU, os oradores enfatizaram que o planeamento familiar custa menos e é mais fácil de colocar em prática do que muitos outros programas ambientais.

23/9/2010

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