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Combater desinformação com censura? "É um erro", respondem jornalistas

A Federação Europeia de Jornalistas não poupa críticas à líder da Comissão Europeia por ter anunciado a proibição da Russia Today e Sputnik News, dois órgãos de comunicação ligados ao Kremlin. Em Moscovo, governo encerrou dois dos mais importantes media independentes.
Foto de Benoît Prieur / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0

O anúncio de Ursula von der Leyen de que irá proibir a "desinformação tóxica e nociva" dos órgãos de comunicação detidos pela Rússia, como o canal televisivo Russia Today e a agência Sputnik News, está a ser contestado pelos jornalistas europeus. Para Ricardo Gutiérrez, secretário-geral da Federação Europeia de Jornalistas (FEJ), "este ato de censura pode ter um efeito totalmente contraprodutivo nos cidadãos que seguem os media alvo de proibição". Em alternativa, defende que "é sempre melhor contrariar a desinformação dos media propagandistas ou alegadamente propagandistas ao expor os seus erros factuais ou mau jornalismo, ao demonstrar a sua falta de independência financeira ou operacional, ao sublinhar a sua lealdade a interesses governamentais e o seu desrespeito pelo interesse público".

Além disso, sublinha Gutiérrez, a regulação dos media está fora das competências da União Europeia, pelo que von der Leyen anunciou uma medida que não pode tomar. "A UE não tem o direito de conceder ou retirar licenças de transmissão. Isso é da competência exclusiva dos estados", aponta o líder da Federação Europeia de Jornalistas. No entanto, após o anúncio da líder da Comissão, a Google veio anunciar ter retirado os canais da Russia Today e Sputnik do Youtube para a Europa, seguindo-se a decisão idêntica das redes sociais detidas por Mark Zuckerberg, o Facebook e Instagram, e da Microsoft e Apple.

"O desafio para as democracias é o de combater a desinformação enquanto preservam a liberdade de expressão", prossegue Ricardo Gutiérrez, o que na sua opinião passa não pela proibição dos media, mas pela "promoção de um ecossistema de media vibrante, pluralista, profissional, ético e viável, totalmente independente dos que estão no poder".

Por outro lado, as ameaças de von der Leyen já tinham sido concretizadas por parte do governo alemão, ao tirar do ar o canal Russia Today em alemão no início de fevereiro, o que levou à retaliação por parte do Kremlin, com a proibição do canal alemão Deutsche Welle (DW). "O resultado desta escalada foi o empobrecimento do pluralismo dos media na Rússia. Os cidadãos perderam o direito a terem acesso à informação transmitida pela DW. Isto é lamentável", concluiu Gutiérrez.

Quando o governo russo retaliou com o encerramento dos gabinetes da DW em Moscovo e a retirada do sinal de satélite que transmitia para a Rússia, a União Europeia respondeu através do seu porta-voz para os assuntos externos, Peter Stano, que a retaliação por parte do Kremlin "infelizmente mostra uma vez mais a sua permanente violação da liberdade de imprensa e o seu desprezo pela independência dos media".

Governo russo fecha rádio e tv independentes

Esta terça-feira, os cidadãos russos deixaram de ter acesso à Dozhd TV e à rádio Echo Moskvy, dois dos mais importantes órgãos de comunicação social independentes que ainda restam no país. A razão apontada foi justamente a de "espalhar desinformação" acerca da invasão russa da Ucrânia. Além disso, denuncia a Federação Europeia de Jornalistas, o parlamento russo prepara-se para aprovar ainda esta semana uma lei que criminaliza com penas até 15 anos de prisão as alegadas fake news sobre as operações militares russas.

Para Ricardo Gutiérrez, esta nova onda de censura contra os media independentes na Rússia vem provar que "o regime de Putin teme mais do que nunca o trabalho dos jornalistas sobre a invasão da Ucrânia e os crimes de guerra cometidos pelo exército russo. Mas essas tentativas são fúteis: Putin engana-se se acha que pode esconder a verdade a uma opinião pública na Rússia que já não hesita em expressar a sua oposição à guerra", responde o líder da FEJ.

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