Combater a desigualdade na distribuição da riqueza

28 de janeiro 2023 - 10:17
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Para quem luta pela justiça social, a igualdade de oportunidades e a felicidade humana, a tendência crescente, agravada pela pandemia, de aumentar o fosso entre ricos e pobres deve reforçar a nossa indignação e intervenção cívica para a inverter. Por Joaquim Sarmento.

Fórum de Davos. Foto World Economic Forum/Michael Calabro

OS NÚMEROS NÃO ENGANAM

Os 10% mais ricos controlam 76% da riqueza global; 50% mais pobres ficam com 2%. A Fortuna dos mais ricos cresceu na pandemia, enquanto milhões entraram na pobreza.

“A crise de Covid-19 exacerbou as desigualdades entre os muito ricos e o resto da população No entanto, nos países ricos, a intervenção governamental evitou um aumento maciço da pobreza, o que não aconteceu nos países pobres.*

Os Ricos estão ficando cada vez mais ricos. O 1% do topo capturou 38% do crescimento da riqueza global entre 1995 e 2021, enquanto os 50% da base garantiram apenas 2%, concluiu o relatório.

As fortunas dos ricos expandiram-se a uma taxa muito mais rápida – entre 3% e 9% ao ano durante esse período.

MULTIMILIONÁRIOS DEFENDEM AUMENTO DE IMPOSTOS

Perante o  escandaloso agravamento do preocupante empobrecimento a nível planetário, um grupo de 205 milionários de 13 países enviaram uma carta para o Fórum Económico Mundial.
Essa carta dirigida ao Fórum Económico Mundial, intitulada “o custo da riqueza extrema ”,expressam a vontade destes ricos em ajudarem a enfrentar a “extrema desigualdade no planeta".

Propõem que os governos de todo o mundo lhes apliquem um imposto sobre a própria riqueza: “taxem os ultra-ricos, taxem-nos imediatamente. A atual falta de ação é gravemente preocupante. Uma reunião da elite global em Davos para discutir cooperação num mundo fragmentado é inútil se não se está resolver a raiz da desigualdade.

Defender a democracia e construir a cooperação requer ação para desenvolver economias mais justas de imediato – não é um problema que possa ser deixado para nossos filhos resolverem”.

Este insólito apelo vem dar mais força à luta por mais justiça social, deve contribuir para reforçar a nossa intervenção persistente e aumentar a pressão política junto de quem nos governa em Portugal e na Europa. Cabe aos movimentos sociais e aos partidos de esquerda, incentivar o direito à indignação e a convergência de formas de exercício  advocacia social por esta justa causa.

E EM PORTUGAL COMO VIVEMOS ESTE DRAMA?

A População portuguesa está mais pobre e a ficar para trás.

Segundo estudos publicados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, há mais pessoas no limiar da pobreza, mesmo depois dos apoios sociais. Muitos são famílias com filhos. Também há mais agregados nos escalões de menores rendimentos do IRS. E os mais ricos estão mais ricos. Portugal piorou a posição no âmbito da UE.

A situação ainda se torna mais preocupante quando sabemos que a taxa de risco de pobreza aumenta para as famílias com filhos e monoparentais, o que afeta especialmente as crianças de hoje e compromete o nosso futuro coletivo.

O governo de maioria absoluta de António Costa enleado em sucessivos escândalos, não parece sensível a este agravamento da pobreza e reage com uns míseros apoios às famílias, que mais parecem esmolas caritativas do que políticas continuadas para a melhoria das condições de vida dos mais desfavorecidos.

Na realidade é evidente a redução das pensões e dos salários, que emagrecem a olhos vistos com a inflação galopante. 

E NÓS QUE FAZEMOS PARA MUDAR ESTA REALIDADE?

Quem é sensível ao drama social e defende a justiça social é natural o crescendo da indignação individual, que deve ser transformada em movimento social de indignados, assumindo diferentes formas de expressão nas redes sociais e nos espaços públicos, recorrendo a modalidades de protesto mais convencionais ou inovadoras.

Será desejável a convergência na ação dos movimentos sociais, dos sindicatos e dos partidos políticos, sobretudo os de esquerda que são mais sensíveis às desigualdades sociais. Pode assumir a forma de abaixo assinados e evoluir para formas de protesto locais, regionais, nacionais e europeus, mobilizando interventores sociais e a em geral população reclamando políticas e iniciativas legislativas que combatam efetivamente esta tendência de enriquecer mais quem muito tem e de aumentar a pobreza e a miséria a nível planetário.

Joaquim Sarmento

* segundo o relatório de Lucas Chancel, co-diretor do Laboratório Sobre Desigualdades Mundiais