Durante o 31.º Digital Business Congress da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), citado pelo jornal Expresso, afirmou que "Portugal está a pagar cada vez melhor".
O que os dados oficiais demonstram, pelo contrário, é que, em termos reais, ou seja, tendo em conta a inflação, a remuneração bruta total média diminuiu 2% e tanto a regular como a base diminuíram 2,5%. Acresce que, nas grandes empresas, com 500 e mais trabalhadores, os trabalhadores viram mesmo a sua remuneração total recuar 0,6%.
O “patrão dos patrões“ lembra que “as empresas vivem das margens que libertam“, defendendo que para pagar melhores salários é preciso pagar mais pelos produtos e serviços portugueses https://t.co/zZ1k2PdV1d
— Expresso (@expresso) May 12, 2022
Salários reais em queda
“A remuneração bruta total mensal média por trabalhador (por posto de trabalho) aumentou 2,2% no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2021, para 1.258 Euros. A componente regular daquela remuneração aumentou 1,7%, situando-se em 1.127 Euros, e a remuneração base subiu 1,6%, atingindo os 1.058 Euros”, indica o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Tendo em conta a inflação, isto implica que, “em termos reais, tendo como referência a variação do Índice de Preços do Consumidor, a remuneração bruta total média diminuiu 2,0% e tanto a regular como a base diminuíram 2,5%”.
Estes resultados “abrangem 4,3 milhões de postos de trabalho, correspondentes a beneficiários da Segurança Social e a subscritores da Caixa Geral de Aposentações”, esclarece o INE.
Conforme destaca o INE, nas grandes empresas, com 500 e mais trabalhadores, os trabalhadores viram mesmo a sua remuneração total recuar 0,6%: “Em relação ao período homólogo (março de 2021), as maiores variações positivas da remuneração total foram observadas nas empresas com 1 a 4 trabalhadores (6,2%) e com 5 a 9 trabalhadores (4,8%), enquanto a única variação negativa foi registada nas empresas com 500 e mais trabalhadores (0,6%)”.
O mesmo padrão foi “observado na remuneração regular e na remuneração base: os acréscimos homólogos mais elevados ocorreram nas empresas de menor dimensão - de 1 a 4 trabalhadores (5,5% e 5,4%, respetivamente) e de 5 a 9 trabalhadores (4,0% e 3,7%) – e o único decréscimo homólogo ocorreu nas empresas de 500 e mais trabalhadores (0,5% e 0,3%, respetivamente)”.
Gráfico do Destaque do INE sobre Estatísticas do Emprego - Remuneração bruta mensal média por trabalhador - 1.º trimestre de 2022
Quase 3,3 milhões de pessoas já perderam poder de compra
Quase 3,3 milhões de pessoas já perderam poder de compra, o equivalente a 66% do total de trabalhadores por conta de outrem. Os cálculos são do Dinheiro Vivo, com base nos dados do INE.
O salário médio líquido registou uma subida de 4,3% no primeiro trimestre, para 1.024 euros, mas a inflação homóloga média do mesmo período fixou-se nos 4,3%, o que implica que o crescimento salarial foi anulado pela subida de preços e a consequente quebra de poder de compra. Tal não se verificava desde o início de 2014, com o governo PSD-CDS e a intervenção da troika.
Se for tida em conta uma inflação como a de abril, de 7,2%, e com a atual progressão salarial, a perda de poder de compra pode ascender a mais de 80% do universo de trabalhadores por conta de outrem, alerta o jornal digital.
A perda de poder de compra não é igual para todos os trabalhadores. No primeiro trimestre, o aumento médio de 0,1% nos salários dos "especialistas das atividades intelectuais e científicas", nos quais se incluem profissionais de educação e saúde equivaleu a uma perda de poder de compra de 4%. Os cerca de 600 mil "trabalhadores qualificados da indústria e construção" também sentiram nos bolsos a queda do poder de compra, com uma quebra salarial líquida real superior a 1,4%.