Chomsky evoca ascensão do fascismo europeu para explicar fenómeno Trump

01 de março 2016 - 22:26

“As pessoas sentem-se isoladas, desamparadas, vítimas de forças poderosas que não compreendem e não podem influenciar”, diz o famoso linguista e ativista político norte-americano, considerando que o bilionário do Partido Republicano está a conseguir canalizar este sentimentos para a sua candidatura.

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Trump: aproveita os sentimentos de desamparo e de raiva do povo pobre. Foto de Gage Skidmore
Trump: aproveita os sentimentos de desamparo e de raiva do povo pobre. Foto de Gage Skidmore

Numa recente entrevista ao Huffington Post, Noam Chomsky afirmou que o crescimento da candidatura de Donald Trump no Partido Republicano se deve aos “sentimentos profundos de raiva, frustração e desamparo” que se espalham entre os setores da população que veem, por exemplo, crescer os índices de mortalidade no país. “Nenhuma guerra, nenhuma catástrofe causou a subida abrupta do índice de mortalidade desta população”, defendeu o famoso linguista e ativista político.

Noutra entrevista, ao site Alternet, Chomsky desenvolveu esta ideia: “As pessoas sentem-se isoladas, desamparadas, vítimas de forças poderosas que não compreendem e não podem influenciar.”

Para o também professor emérito do MIT, “é interessante comparar com a situação dos anos 30, que eu tenho idade suficiente para recordar. Objetivamente, a pobreza e o sofrimento eram muito maiores. Mas mesmo entre o povo trabalhador pobre e os desempregados havia um sentimento de esperança que falta hoje, em grande parte devido ao crescimento, na época, de um movimento sindical militante e também à existência de organizações políticas exteriores ao mainstream”.

São sinais que conhecemos, e que evocam algumas memórias da ascensão do fascismo europeu.

Os sentimentos de desamparo e de raiva, defende Chomsky, “não apontam tanto às instituições que são agentes de dissolução das suas vidas e do mundo”, mas sim àqueles que são ainda mais duramente atacados. “São sinais que conhecemos, e que evocam algumas memórias da ascensão do fascismo europeu.”

Viragem à direita

A uma pergunta sobre o surgimento da candidatura de Bernie Sanders, declaradamente socialista, e também do novo líder trabalhista britânico, Jeremy Corbin, Chomsky respondeu:

“Sanders, na minha opinião, é um honesto e decente democrata do New Deal. Corbyn expressa as posições do trabalhismo tradicional. O facto de serem olhados como 'extremistas' ilustra a viragem à direita de todo o espectro político durante o período neoliberal.