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Chile: dos Pandora Papers ao filibuster, um presidente liberal em apuros no fim de mandato

Piñera enfrenta uma investigação do Ministério Público por causa de irregularidades na venda de uma mina mas também o primeiro processo de destituição de um presidente a chegar ao Senado. A sua aprovação no parlamento dependeu de um voto preso por uma intervenção de 15 horas e um prazo de quarentena.
O deputado Jaime Naranjo na sua longa intervenção no debate sobre o processo de destituição de Piñera. Foto do Twitter.
O deputado Jaime Naranjo na sua longa intervenção no debate sobre o processo de destituição de Piñera. Foto do Twitter.

Jaime Naranjo, deputado socialista chileno, falou durante 15 horas no Parlamento de forma a que outro parlamentar pudesse ter tempo para sair da quarentena e votar a favor do início de um processo de destituição do Presidente da República. A oposição necessitava de 78 dos 155 votos para fazer avançar o processo. E a longa leitura de 1.300 páginas, com várias pausas pelo meio, até para fazer um check-up médico, que se assemelhou às técnicas de filibuster utilizadas na política norte-americana, conseguiu obter exatamente o resultado desejado. Giorgio Jackson, da Frente Amplio, estava confinado devido ao seu contacto com Gabriel Boric, o candidato presidencial da esquerda que contraiu Covid-19. Acabado este prazo, percorreu cem quilómetros, em parte filmados num direto nas redes sociais que chegou a ter 20.000 pessoas a segui-lo simultaneamente e chegou ao Parlamento a tempo de votar.

Sebastián Piñera foi um dos visados pelas informações dos Pandora Papers que mostraram irregularidades cometidas pelo presidente chileno na venda de um projeto mineiro nas Ilhas Virgens Britânicas em 2010. O processo de destituição segue para o Senado, onde seria preciso que tivesse uma maioria de dois terços, o que implicaria que cinco senadores da direita mudassem de sentido de voto, e, para além disso, esta votação acontecerá a apenas cinco dias do seu mandato terminar. Contudo, não deixa de ser um golpe forte contra a direita. É, aliás, a primeira vez que um processo de destituição é aprovado.

A par dele corre ainda uma investigação do Ministério Público por fuga ao fisco.

No próximo dia 21 de novembro vão acontecer eleições presidenciais. Dos sete candidatos, há três que segundo as sondagens disputam a passagem à segunda volta. Em primeiro lugar está Gabriel Boric, em nome da Apruebo Dignidad, uma coligação que junta as coligações Frente Ampla e a Chile Digno. Atrás dele, a campanha tem revelado que o candidato apoiado por Piñera e pela direita, Sebastián Sichel, está a perder terreno para o candidato de extrema-direira, José Antonio Kast.

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